Quem se responsabiliza pela passagem do Ensino para o Emprego?
A meu ver, é uma responsabilização tripartida, que deve incorporar universidades, ordens profissionais e Governo
Intranquilidade é um sentimento comum a uma geração de estudantes universitários. Por um lado, a pressão de fazer parte da construção de um futuro, por outro, a limitação herdada do passado.
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Intranquilidade é um sentimento comum a uma geração de estudantes universitários. Por um lado, a pressão de fazer parte da construção de um futuro, por outro, a limitação herdada do passado.
Esta dualidade acentua-se no momento de transitar do Ensino para o Emprego e aí surgem dúvidas sem resposta. De quem é, afinal, a responsabilidade da ligação, no final do percurso universitário, ao mercado de trabalho? De gerir as expectativas dos candidatos ao Ensino Superior e dos que terminam o curso? São as universidades a solução ou apenas mais um interveniente em que o Estado ainda não definiu o seu posicionamento (ou distanciamento)? A meu ver, é uma responsabilização tripartida, uma “troika”, mas esta à portuguesa, que incorpore universidades, ordens profissionais e Governo.
As universidades podem ter um papel fundamental na colocação directa do valor criado no mercado de trabalho, estabelecendo parcerias fruto da autonomia ou mesmo pelo incentivo à criação de ideias e de auto-emprego.
A distinção será feita pela conotação de marca formativa. No exemplo da Universidade do Porto - entre as 400 melhores do mundo e as 100 melhores da Europa na produção de ciência - é peremptório que os padrões de qualidade de avaliação interna e definição de rede de Ensino Superior devem acompanhar este crescimento.
É inegável a rápida redefinição da sociedade e esta volatilidade deve ser moldada pela base, por uma universidade que permita o livre acesso ao conhecimento, consentindo a mobilidade interna e, com isso, a rápida e acessível aquisição de competências complementares entre os vários saberes.
Por parte das ordens profissionais, a Agência (A3ES) veio claramente fingir ocupar um espaço de regulação independente que não cumpriu com aquilo que se esperaria nos prazos que a estruturação da rede de Ensino Superior necessitaria para tornar esta reforma o mais distanciada da pressão económica quanto possível, o que retirou espaço e responsabilidade às ordens profissionais para terem mais do que uma acção consultiva nesta matéria.
Do Governo espera-se uma definição estratégica entre quadros elevados na sociedade, com valorização dos mesmos, ou a lógica da afinidade e sobrevivência por aptidão com quadros superiores a exercer fora do seu âmbito, bem como a definição do conceito de gestão autónoma das universidades.
Pagamos hoje os erros do passado e hipotecamos o presente para que o futuro seja sustentável, o que nos assiste como uma dualidade de responsabilidade e sacrifício. Se esta é a nossa geração, então temos de exigir o incentivo à não limitação entre a potencialidade do indivíduo construir o futuro e o receio de garantir o presente. Muito se fala de concertação social, mas pode ser mais do que palavras: basta iniciativa.