Não há correspondência entre os crimes do Estripador de Lisboa e o de Aveiro
José Guedes, o homem de 46 anos que afirma ser o "estripador de Lisboa", assassino que, entre 1992 e 1993, esventrou três prostitutas, não mais poderá ser condenado em tribunal por estes crimes. Os casos estão prescritos e até a procuradora-geral distrital de Lisboa, Francisca Van Dunen, já confirmou que, não havendo possibilidade de condenar o suspeito, não se justificam novas investigações e diligências.
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José Guedes, o homem de 46 anos que afirma ser o "estripador de Lisboa", assassino que, entre 1992 e 1993, esventrou três prostitutas, não mais poderá ser condenado em tribunal por estes crimes. Os casos estão prescritos e até a procuradora-geral distrital de Lisboa, Francisca Van Dunen, já confirmou que, não havendo possibilidade de condenar o suspeito, não se justificam novas investigações e diligências.
Detido pela Polícia Judiciária (PJ) de Aveiro desde quarta-feira da passada semana, por se suspeitar ser o autor da morte, em 2000, de mais uma jovem naquela cidade, o operário de construção civil actualmente desempregado assumiu ao semanário Sol ser o "estripador de Lisboa". Mas essa é, por enquanto, apenas uma hipótese que está a ser analisada. A maior parte dos investigadores da PJ que, directa ou indirectamente, desenvolveram peritagens aquando dos crimes de Lisboa estranham que só 18 anos após a última morte (três depois do crime ter prescrito) é que exista uma confissão.
Subsiste ainda um pequeno grande pormenor que leva os investigadores a terem alguma relutância em aceitar a confissão de José Guedes. É que, aquando dos crimes de Lisboa, as vítimas, para além de serem todas prostitutas, foram mortas por esventramento ou esventradas depois de estranguladas e espancadas. No caso da mulher de Aveiro houve apenas estrangulamento.
O homem agora detido, que terá estado emigrado na Alemanha entre 1994 e 2000, terá ainda dito ter assassinado algumas prostitutas (num número não revelado) naquele país. A troca de informação policial entre os dois países não revela, no entanto, que nenhuma alemã tenha morrido, no período em apreço, por esventramento, como aconteceu com os três casos de Lisboa.
Em 1993, já depois da segunda morte verificada em Lisboa, a PJ criou um gabinete específico que se dedicou, durante vários anos, à recolha de elementos sobre crimes idênticos ocorridos em todo o mundo. No mesmo período foram utilizados, não só em Lisboa, mas também em diversas localidades das imediações, dezenas de agentes estagiários que, 24 horas por dia, efectuavam inquéritos, sobretudo a prostitutas e comerciantes.
O referido gabinete tinha ainda a missão de esmiuçar as dezenas de eventuais pistas que chegavam diariamente. Nessa ocasião, tal como agora está a suceder com o operário preso pela PJ de Aveiro e que tem residência em Matosinhos, também surgiram inúmeros candidatos a "estripador". E não era apenas à PJ que se dirigiam (muitas vezes obrigando a perda de dezenas de horas em averiguações estéreis), mas também à imprensa, dando pormenores sobre os crimes que, alegadamente, teriam cometido e até pistas relativas a locais onde, diziam, iriam aparecer mais mulheres esventradas.
Em declarações à SIC o antigo coordenador da secção de homicídios da PJ de Lisboa, João de Sousa, disse que, praticamente, só existe um modo de saber se José Guedes é ou não o "estripador": "Teria de ser confrontado, nos locais das mortes, com pormenores das investigações que apenas os polícias, e naturalmente o próprio assassino, conhecem. Se então houvesse sintonia entre essas confrontações, então seria certo que é ele [José Guedes] o culpado."
Entre as pistas recolhidas pela PJ (junto a um barracão de ferramentas sob a via-férrea, em Entrecampos, onde matou a segunda mulher) conta-se uma pegada marcada sobre os líquidos derramados pelas vísceras. Essa pegada seria susceptível de permitir calcular o peso e a altura da vítima, assim como as suas aptidões físicas. Seguir esta pista implicaria agora procurar um processo que, legalmente, já prescreveu há três anos e já terá sido destruído.
O que se perfila é que José Guedes venha a enfrentar o tribunal apenas para responder à morte verificada em Aveiro, há 11 anos. Isto caso não se prove que na Alemanha também cometeu homicídios.