Design do dia-a-dia: A poluição dos códigos visuais

O projecto ColorAdd patenteado pelo designer Miguel Neiva foi projectado para tentar colmatar um défice de acuidade visual de alguns cidadãos

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Há profissões mais prejudiciais que o design industrial, mas poucas… E possivelmente apenas uma profissão é mais maléfica. O design publicitário, persuadindo pessoas a comprar coisas que não precisam, com dinheiro que não têm, de forma a impressionar outros que não querem saber.

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Há profissões mais prejudiciais que o design industrial, mas poucas… E possivelmente apenas uma profissão é mais maléfica. O design publicitário, persuadindo pessoas a comprar coisas que não precisam, com dinheiro que não têm, de forma a impressionar outros que não querem saber.

Num meio ambiente que está visual, física e quimicamente degradado, o melhor que arquitectos, designers e outros projectistas poderiam fazer em prol da humanidade seria interromper o seu trabalho.

As abruptas ideias dos anteriores dois parágrafos são do Professor Victor Papanek, expressas no livro “Design for the Real World – Human Ecology and Social Change”, e decorrem da noção sobre o dever ético e moral do designer em, para além de traduzir valor acrescentado a um produto, considerar a minimização do impacto deste no ecossistema. Tanto ao nível da eficiência produtiva, como da contenção da produção que, num contexto massificado de produtos e serviços, em detrimento de descodificar o meio tornando-o mais funcional e aprazível para as pessoas, tantas vezes o polui com objectos ou informações redundantes, interferindo com o alcance dos já preexistentes.

O projecto ColorAdd patenteado pelo designer Miguel Neiva, aclamado e premiado em inúmeros fóruns, foi projectado para tentar colmatar um défice de acuidade visual de alguns cidadãos cuja diferenciação de cores é limitada por um problema congénito – o daltonismo. Baseando-se num código monocromático, assenta no desdobramento das cores recorrendo a formas geométricas para as representar.

Conceito meritório, resultado de um trabalho académico, logo me despertou curiosidade pelo, aparente, carácter inclusivo. Não obstante, e remetendo novamente para as ideias centrais de Victor Papanek, questiono-me sobre a eficácia deste código visual por duas ordens de razões: A primeira, pela sobreposição da informação. Não será o alfabeto, código universal, mais eficaz para o efeito? Preferirá o cidadão daltónico decorar mais um código visual, ao invés de ler simplesmente os nomes das cores? A segunda, pela síntese formal do desenho cuja representação entre símbolos cromáticos se assemelha. A cor azul e vermelha são formalmente idênticas, apenas com uma inflexão na orientação.

Será este um exemplo de sobreexposição visual? Em contextos de uso massificados, e já por si fortemente codificados, onde o sistema ColorAdd é presença (transportes, vestuário, entre outros), pergunto-me se não tornará mais complexa a interpretação da informação e tomada de decisões por parte das pessoas? Julgo que sim, mas… Talvez não. O tempo o dirá… Esta é, aliás, apenas uma reflexão, na certeza de que ao cidadão informado cabe decidir.