O Inverno (árabe) do nosso descontentamento

Estou convicta de que, seja pela fuga, por renúncia ou por morte, uma coisa é inevitável: Bashar al-Assad acabará por ser afastado do poder. Até lá, assistiremos a muitas mais mortes

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Reuters/arquivo

Apesar do apoio da China e da Rússia (por interesses geopolíticos estratégicos?), um número cada vez maior de países tem condenado a violência exercida pelas forças de segurança e pelo exército do regime ditatorial da Síria contra o seu próprio povo. Os manifestantes, apesar da repressão, não desarmam. A comunidade internacional tem, até ao momento, evitado intervir directamente nesta luta. E o sinal mais forte até acabou por vir mesmo da Liga Árabe, que suspendeu a Síria da condição de membro, até que a violência contra os manifestantes anti-regime termine. Bashar al-Assad está, assim, cada vez mais isolado.

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Apesar do apoio da China e da Rússia (por interesses geopolíticos estratégicos?), um número cada vez maior de países tem condenado a violência exercida pelas forças de segurança e pelo exército do regime ditatorial da Síria contra o seu próprio povo. Os manifestantes, apesar da repressão, não desarmam. A comunidade internacional tem, até ao momento, evitado intervir directamente nesta luta. E o sinal mais forte até acabou por vir mesmo da Liga Árabe, que suspendeu a Síria da condição de membro, até que a violência contra os manifestantes anti-regime termine. Bashar al-Assad está, assim, cada vez mais isolado.

Em comum com as lutas travadas na Tunísia, no Egipto ou na Líbia, o que move o povo sírio é o desejo de liberdade, de colocar um ponto final no reinado mantido por opressores e torcionários. Estima-se que os mortos no conflito armado, que dura desde o início deste ano, ultrapassem em muito os 3.000.

Todavia, a questão síria tem contornos muito complexos, nomeadamente no que respeita ao peso político internacional dos seus – ainda – aliados (como a China e a Rússia), ao poder económico de outros dos seus apoiantes (como o Irão) e aos interesses de alguns dos seus agora opositores (como a Turquia). Por isso, e infelizmente, este conflito interno ameaça ser mais longo e duro do que aqueles que agitaram os seus vizinhos.

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O que move o povo sírio é o desejo de liberdade Baz Ratner/Reuters/arquivo

Contextualizando, o Oriente e o Norte de África estão, deste o final do ano passado, a braços com revoluções, protestos e manifestações populares. A renúncia de Ben Ali, na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egipto, galvanizou os civis de diversos países à resistência e à luta, mais ou menos organizada, contra os regimes ditatoriais, a censura e a repressão que sofrem. Teve assim início a “Primavera Árabe”.

Já em Outubro, Muammar Khadafi foi morto a tiro, depois de ter sido capturado e torturado por rebeldes líbios, após largos meses de guerra civil. Nos dois primeiros casos, os “danos colaterais” (destruição das infra-estruturas vitais à economia dos países) foram relativamente baixos, quando comparados com o sucedido na Líbia.

Na Síria, são várias as organizações internacionais que, há meses, exigem que a comunidade internacional tome medidas concretas e eficazes contra o Governo sírio, tentando, deste modo, acabar com o que muitos apelidam de “atrocidades”, atingindo contornos de “crimes contra a Humanidade”. No entanto, e concretamente no que respeita à Organização das Nações Unidas, todas as tentativas de resolução apresentadas ao Conselho de Segurança foram, até ao momento, bloqueadas pela China e pela Rússia, dois fortes aliados do regime sírio.

Mas, enfim, estou convicta de que, seja pela fuga, por renúncia ou por morte, com maior ou menor apoio da comunidade internacional, uma coisa é inevitável: Bashar al-Assad acabará por ser afastado do poder. Até lá, tenho para mim que ainda assistiremos a muitas mais mortes, a muito mais destruição, a muitos mais crimes. A Síria será, no final de tudo isto, um país devastado, aniquilado, massacrado. Depois da “Primavera Árabe”, estamos prestes a assistir ao Inverno (árabe) do nosso descontentamento.