Arquitectura: o problema está no ensino

A universidade, que deveria ser um centro territorial de agregação de iniciativa, energia, de ciência e excelência, passou a ser uma vulgar instituição replicada

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Sinto-me forçado a admitir que há evidentes problemas na distribuição do trabalho em Portugal; que a acumulação dos grandes projectos (como os da Parque Escolar) em grandes escritórios é tendencialmente injusta – para além de muito difícil de explicar; que há muito trabalho em Portugal, consequente da emergência da reabilitação dos centros (e não só) ou da diversidade e amplitude da formação do arquitecto, enquanto indivíduo social e público completo.

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Sinto-me forçado a admitir que há evidentes problemas na distribuição do trabalho em Portugal; que a acumulação dos grandes projectos (como os da Parque Escolar) em grandes escritórios é tendencialmente injusta – para além de muito difícil de explicar; que há muito trabalho em Portugal, consequente da emergência da reabilitação dos centros (e não só) ou da diversidade e amplitude da formação do arquitecto, enquanto indivíduo social e público completo.

Os problemas podem ser muitos, mas o problema nuclear está no ensino – e não assumir isso é evitar observar com lucidez o problema da profissão. Particularmente num sistema de ensino superior sobredimensionado e perigoso, apetecível para alguns mercenários do subsistema particular e cooperativo que, naturalmente, vêem com oportunismo o empolamento das expectativas dos estudantes do ensino secundário (e potenciais candidatos) pelos sucessos internacionais e pela visibilidade dos Pritzkers e afins.

A universidade, que deveria ser – de acordo com os seus princípios fundacionais – um centro territorial de agregação de iniciativa, energia, de ciência e excelência, passou a ser uma vulgar instituição replicada. Sobre alguns cursos de ensino superior em Portugal não deixam de ser colocadas constantes dúvidas relativas à sua autonomia científica, o que é fácil de compreender. Difícil é compreender a existência em simultâneo de 25 cursos de Arquitectura, sendo que o fundamento da diferença não está, certamente, na diversidade regional da Arquitectura Popular. Também difícil é explicar a existência de três cursos do mesmo subsistema e no mesmo regime (universitário público) em Lisboa e, dois deles, na mesma instituição de ensino superior.

Não podem ser descartadas responsabilidades à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), em que a Ordem dos Arquitectos tem assento – através do Conselho Consultivo. Em mais de quatro anos de existência, este organismo tinha mais do que obrigação, tempo e espaço para reorganizar um sistema descontrolado, desgovernado, anárquico e concorrencial, no sentido selvático, como demonstra a recente entrevista do director do departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, Jorge Figueira, ao P3.