Habemus Papam
A alma da comédia italiana clássica continua a passar como poucas pelo cinema de Nanni Moretti, um dos poucos contemporâneos a pensar seriamente como a actualizar sem lhe emascular a truculência. “Temos Papa” é perfeito no modo como nos faz rir para logo a seguir nos deixar a perguntar do que é que nos estamos a rir quando as coisas não têm assim tanta graça como isso (no caso, a história de um papa recém-eleito como solução de compromisso que dá por si incapaz de assumir o cargo). É menos perfeito no modo como não concilia a contento a melancolia e a truculência - se esse contraste é a chave do filme, Moretti fica por vezes perigosamente perto de afogar a performance toda em nuances de Michel Piccoli como o papa que duvida na truculência hilariante do conclave dos cardeais (com um torneio de voleibol darwinista e questões sobre os ansiolíticos cardinalícios). Não deixa, por isso, de ser um filme de uma deliciosa e pungente ironia, de uma feliz humanidade - fica apenas a sensação (que “O Caimão” já nos deixara) de um Moretti a meio gás, com rasgos do que seria capaz de fazer com o depósito cheio...
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A alma da comédia italiana clássica continua a passar como poucas pelo cinema de Nanni Moretti, um dos poucos contemporâneos a pensar seriamente como a actualizar sem lhe emascular a truculência. “Temos Papa” é perfeito no modo como nos faz rir para logo a seguir nos deixar a perguntar do que é que nos estamos a rir quando as coisas não têm assim tanta graça como isso (no caso, a história de um papa recém-eleito como solução de compromisso que dá por si incapaz de assumir o cargo). É menos perfeito no modo como não concilia a contento a melancolia e a truculência - se esse contraste é a chave do filme, Moretti fica por vezes perigosamente perto de afogar a performance toda em nuances de Michel Piccoli como o papa que duvida na truculência hilariante do conclave dos cardeais (com um torneio de voleibol darwinista e questões sobre os ansiolíticos cardinalícios). Não deixa, por isso, de ser um filme de uma deliciosa e pungente ironia, de uma feliz humanidade - fica apenas a sensação (que “O Caimão” já nos deixara) de um Moretti a meio gás, com rasgos do que seria capaz de fazer com o depósito cheio...