O país da Arquitectura

A Arquitectura é um bem comum e os arquitectos são mais do que nunca essenciais para a solução, para a reconstrução de um país. Não somos demais para o trabalho que existe por fazer

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O país da Arquitectura está sem ordem, sempre o esteve, não é novidade. Os problemas deste país encontram-se mais que detectados, analisados, aliás, exaustivamente esmiuçados, mas, mesmo assim, temos permitido que eles perdurem no tempo.

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O país da Arquitectura está sem ordem, sempre o esteve, não é novidade. Os problemas deste país encontram-se mais que detectados, analisados, aliás, exaustivamente esmiuçados, mas, mesmo assim, temos permitido que eles perdurem no tempo.

É certo que nenhum país morre de desastre, qualquer que ele seja: de doença; de fome; de desemprego; de mais 30 minutos de trabalho por dia; de falta de recursos; de falta de produção; de falta de investimento; de falsos recibos verdes; de estágios não remunerados; de falta de cultura; de inexistência de contratos de trabalho; do número de licenciados que se acotovelam; das adjudicações directas; das reformas milionárias; das reformas miseráveis; dos paraísos fiscais; do aumento do IVA; do salário mínimo que não sobe; de ingestão; dos buracos ou do congestionamento das estradas. O mais importante é que a estrada nos continue a dar opções de continuidade ou de ruptura para as quais serão essenciais os jovens e os menos jovens. Todos aqueles que não encontram alternativas e se vêm forçados a virar costas ao país deviam dizer: basta de Sócrates, basta de Paulo e basta de Pedro!

Não é geracional, está-nos entranhado no sangue e, à semelhança dos vários governantes que por cá passaram, eleitos com minorias que não representam os anseios e o querer da maioria dos portugueses, também a actual direcção da Ordem dos Arquitectos, eleita por uma minoria de cerca de 8% dos seus associados, tem sido cúmplice deste sistema onde impera a desregulação laboral, demitindo-se da sua responsabilidade e trabalhando em prol da arquitectura enquanto entidade abstracta e não do arquitecto que a produz.

Em 1919, já Fernando Pessoa dizia no seu livro “Como Organizar Portugal” que “resolver envolve simplificar”. Simplificar é assumir o problema deste país, ter consciência da realidade, coragem e responder de forma credível.

Uma estratégia para a Arquitectura

A Arquitectura é uma actividade potenciadora de desenvolvimento económico, cultura, civismo, educação, assumindo uma importância crescente. Não é um luxo, nem um bem supérfluo. A Arquitectura é um bem comum e os arquitectos são mais do que nunca essenciais para a solução, para a reconstrução de um país. Não somos demais para o trabalho que existe por fazer. Como se pode falar em sobrelotação do mercado laboral quando os nossos centros urbanos se encontram em risco de ruína iminente, quando temos periferias desqualificadas, muitas delas de génese ilegal resultantes do êxodo rural, quando existe uma crescente desertificação do interior, quando são necessárias mais e melhores políticas de ordenamento, quando se constrói sem pensar para quê.

Não se pretende dar uma solução para a nação, mas sim delinear uma estratégia de actuação que englobe a Arquitectura enquanto disciplina de utilidade social. Só a dimensão social do arquitecto permite estabelecer uma relação dialéctica com a realidade que nos faz pensar sobre a efectiva responsabilidade da arquitectura e a utilidade prática do arquitecto. Pensar como responder aos vários problemas da habitação, do urbanismo, do planeamento do território e propor novas formulações das necessidades, comportamentos e aspirações do povo. Acompanhar o presente e comprometermo-nos com ele, sem nos alhearmos da nossa condição e responsabilidade sociais. Simplificar e reescrever palavras como as do arquitecto Vítor Figueiredo: “As coisas são como são, tenhamos a coragem de as afrontar e lutar para as alterar! O que nos distingue não serão os objectivos, mas o modo como se pretende atingi-los.”