Manifestantes desafiam polícia e reocupam praça Tahrir

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O Conselho militar responsável pelo Governo do Egipto convocou os membros do executivo para uma reunião de emergência para discutir a violência entre polícia e manifestantes na praça Tahrir do Cairo e outras cidades do país, avançou a agência estatal.

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O Conselho militar responsável pelo Governo do Egipto convocou os membros do executivo para uma reunião de emergência para discutir a violência entre polícia e manifestantes na praça Tahrir do Cairo e outras cidades do país, avançou a agência estatal.

Um contingente da polícia militar, com equipamento anti-motim, foi destacado para a praça Tahrir, depois das tentativas da polícia civil para dispersar os manifestantes se terem revelado infrutíferas. Os soldados usaram gás lacrimogéneo, queimaram as faixas e cartazes deixados na praça e recorreram aos bastões para afastar do local os activistas que se recusavam a sair.

Apesar da polícia ter reassumido o controlo da praça Tahrir, os protestos prosseguiam em várias artérias secundárias nas imediações, marcados por cenas de violência entre manifestantes e agentes civis e militares.

Entretanto, foi reforçada a segurança junto ao ministério do Interior, para onde acorriam muitos dos manifestantes, num protesto improvisado de denúncia das manobras violentas das autoridades. O edifício foi isolado por um cordão composto por tanques e veículos blindados.

Como prometiam no sábado à noite, muitos egípcios passaram a noite na Tahrir. Esta manhã havia menos gente mas os confrontos com a polícia continuavam, concentrados agora numa única rua de acesso à praça, a Mohammad Mahmoud.

“Muitas pessoas foram para casa de manhã. Esperemos que voltem durante o dia. À noite, depois do trabalho, sei que muitos amigos virão”, diz ao PÚBLICO Walid. “Só queremos que o SCAF transfira o poder. Para um conselho interino de civis, para um presidente provisório escolhido pelas pessoas, para quem quer que seja. Já não confiamos nos militares. Basta.”

Com a voz rouca do gás lacrimogéneo, Mohamed Baqr, um engenheiro de 30 anos, garante que não voltará a deixar a praça, como em Fevereiro, depois de derrubado Hosni Mubarak. “Se não dissermos agora o que queremos eles vão-nos esmagar. Isto é terrível. Só temos uma exigência… Uma exigência não, uma ordem, a revolução ordena ao SCAF que caia, que caia agora.”

O SCAF é o Conselho Supremo das Forças Armadas, liderado pelo marechal Hussein Tantawi. Na Tahrir grita-se “Liberdade, liberdade” e “O povo quer a queda do marechal”.

Ao hospital improvisado por alguns médicos que se dirigiram espontaneamente à Tahrir no sábado continuam a chegar feridos, a maioria com asfixias provocadas pelo gás. Pela praça há voluntários com água para borrifar os olhos dos que vão sendo atingidos pelas nuvens de fumo lacrimejante.

Na Mohammad Mahmoud uns 200 indefectíveis tomam a dianteira da confrontação com a polícia, seguidos por mais algumas centenas que avançam e recuam ao ritmo do gás lacrimogéneo lançado pelos polícias que se mantêm ao fundo da rua. Quando o gás é demasiado, a multidão corre em direcção à Tahrir. Um homem apoiado por dois companheiros passa a sangrar do olho esquerdo, depois de ter sido atingido por uma bala de borracha.

Sábado já havia relatos de muitos manifestantes cegos pelas balas. Domingo, os activistas na Tahrir falam de dois mortos no Cairo e de três na cidade de Alexandria. Os médicos que se encontram no local não sabem dizer se alguém morreu nos protestos do centro da capital egípcia. Confirmadas estão duas mortes em Alexandria, incluindo a de Bahaa al-Sonousy, membro do partido Al-Tayyar Al-Masry, atingido na cabeça durante os confrontos de sábado, para além de centenas de feridos nas duas cidades.

A relação entre os egípcios e o Exército – que em Fevereiro se pôs ao lado do povo e exigiu a Mubarak que deixasse o poder – tem-se deteriorado nos últimos meses, à medida que os egípcios se foram convencendo de que os militares não queriam deixar o poder que assumiram com a saída de cena do ditador. Agora, a relação parece ferida de morte e impossível de reconstruir.

Em entrevistas a televisões e jornais locais, vários oficiais responsabilizam “grupos de bandidos” pelos tumultos e garantem que querem transferir o poder antes do fim de 2012 para as autoridades que os egípcios entretanto irão eleger. As eleições legislativas deveriam começar no dia 28, daqui a uma semana.

Muitos activistas consideram que a decisão de atacar as poucas centenas de manifestantes pacíficos que acamparam na Tahrir depois do grande protesto de sexta-feira faz parte de um plano do Exército para poder adiar as eleições e permanecer no poder.

Notícia actualizada às 22h01