Berlusconi saiu

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“Ciao Silvio!”, “desaparece!”, “até que enfim!”, gritava uma multidão perto do Parlamento para seguir de perto os últimos passos de Berlusconi no seu terceiro mandato de chefe do Governo. Depois de ser apupado, o político terá desabafado com os seus conselheiros: "Isto é algo que me custa muito", segundo a agência italiana Ansa.

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“Ciao Silvio!”, “desaparece!”, “até que enfim!”, gritava uma multidão perto do Parlamento para seguir de perto os últimos passos de Berlusconi no seu terceiro mandato de chefe do Governo. Depois de ser apupado, o político terá desabafado com os seus conselheiros: "Isto é algo que me custa muito", segundo a agência italiana Ansa.

"Il Cavaliere" - primeiro-ministro de Itália entre 1994 e 1995, de 2001 a 2006 e ainda de 2008 a 2011 - deverá ser agora substituído pelo antigo comissário europeu Mario Monti, que tentará formar um novo Executivo para enfrentar a crise financeira que está a levar os juros aplicados à Itália para níveis insuportáveis.

A dissolução do Governo de Berlusconi, que na terça-feira perdeu a maioria parlamentar que lhe permitia manter-se em funções, foi efectivada esta tarde pelo conselho de ministros extraordinário. Horas antes, o Parlamento abrira caminho à sua demissão com a aprovação final de um pacote de reformas económicas. Berlusconi tinha prometido retirar-se logo que os deputados aprovassem a lei, que os parceiros europeus consideram essencial para restaurar a confiança dos mercados nas finanças públicas do país.

Ontem, o Senado aprovou, com 156 votos a favor e 12 contra, as novas medidas de emergência e salvação nacional, que prevêem a mesma receita de cortes e ajustamentos orçamentais adoptados por outros países europeus (incluindo Portugal, Grécia e Irlanda, forçados a recorrer à ajuda internacional) para fazer baixar a dívida pública. Na Itália, esse valor ascende já a 1,9 milhões de milhões de euros, o correspondente a 120% do Produto Interno Bruto.

O mais que provável novo primeiro-ministro começou esta manhã uma série de reuniões para preparar a sucessão: primeiro com o novo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, depois com o próprio Berlusconi, refere o “Corriere della Sera”. Neste encontro estava também Angelino Alfano, vice-secretário-geral do Povo da Liberdade (PdL, no poder). Segundo o jornal, que cita fontes parlamentares, este serviria para garantir um voto favorável do PdL ao novo Executivo – mas o partido de "Il Cavaliere, estava dividido sobre os apoios a um Governo Monti.

Mas dentro do PdL existiam divergências sobre o apoio a Monti, noticiou o “La Repubblica”. Chegou mesmo a avançar-se com propostas de outros nomes para liderar o novo Executivo, como o de Alfano, também ministro da Justiça. A proposta teve a oposição do Partido Democrático. Também a Liga Norte, actual aliado do PdL, se opõe a um Governo Monti.

Saída de cena

O polémico e populista líder do partido Povo da Liberdade sai de cena com relutância, sem honra, sem glória - e sem alternativa. O primeiro-ministro que suportou escândalos de corrupção e até de índole sexual revelou-se incapaz de acalmar os mercados financeiros. A factura exigida pelos investidores para a sua manutenção no poder tornou-se insuportável para a economia italiana: com as taxas de juro para os títulos da dívida soberana na casa dos sete por cento, a liderança de Berlusconi poderia custar a bancarrota do país.


Chegado ao poder com a promessa de uma "revolução liberal" há 17 anos, Berlusconi foi derrotado pelos mercados. Não foram os "poderosos interesses instalados" a quem jurou dar luta - da Igreja Católica aos juízes, passando pelos sindicatos, associações industriais e empresariais, o mundo da cultura e academia - que lograram afastá-lo; foi o seu programa de combate ao clientelismo e corrupção que veio a revelar-se um fracasso completo.

Como confirmou à agência Bloomberg Sylvain Broyer, o economista-chefe do banco de investimento francês Natixis, "os mercados queriam a cabeça de Berlusconi".

Agora que foi confirmada a demissão do Cavaliere, o Presidente Giorgio Napolitano, que assumiu um papel preponderante na gestão da crise política, deverá endereçar convite ao reputado economista e professor universitário Mario Monti para liderar um governo de transição que assegure que as reformas necessárias são implementadas.

Napolitano apelou a todas as forças políticas para que “ajam com responsabilidade” nesta altura de “desafio para a coesão social do país”. Alguns partidos já declararam a sua oposição às medidas de austeridade e ao Governo de transição. A Liga Norte, por exemplo, já anunciou que passará à oposição, e clamava, no seu jornal La Padania: “Não à traição do voto popular”.

O antigo comissário europeu responsável pela Concorrência, que sempre foi independente de partidos políticos, foi ontem longamente aplaudido ao assumir o lugar vitalício no Senado que lhe fora atribuído na véspera pelo Presidente. Mais tarde, Monti reuniu com o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco. Mas apesar da preferência de Napolitano - e já agora, também dos restantes líderes europeus e dos mercados - por um governo de tecnocratas, a manutenção de algumas figuras políticas no Executivo deverá ser a única forma de garantir que a Itália não cai numa instabilidade política paralisadora da acção do governo.

Notícia corrigida às 07h40 de 13 de Novembro, relativamente aos anos em que Silvio Berlusconi assumiu o cargo de primeiro-ministro.