De quantos empregos precisas para ser feliz?
Será que a satisfação de uma pessoa se mede pela quantidade de profissões? Socióloga diz que o valor do emprego é inquestionável
Quando se pede a João Santos para descrever aquilo que faz, profissionalmente, é comum ouvir por entre a resposta: “Sou (…), faço (…), também faço (…), sou ainda (…)”. Ou seja, João é e faz mais do que uma coisa. Em concreto, é gerente de uma loja de discos, proprietário de uma editora, músico, DJ e contabilista.
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Quando se pede a João Santos para descrever aquilo que faz, profissionalmente, é comum ouvir por entre a resposta: “Sou (…), faço (…), também faço (…), sou ainda (…)”. Ou seja, João é e faz mais do que uma coisa. Em concreto, é gerente de uma loja de discos, proprietário de uma editora, músico, DJ e contabilista.
Mas se tivesse de escolher entre todas estas actividades, ficava só com a de músico e a de DJ – “É a minha visão utópica”. “Algumas delas só mantenho por necessidade, outras porque me dão prazer”, revela. Com 32 anos e uma licenciatura em Gestão, DJ Tam [nome artístico] usa esse “canudo” para fazer a contabilidade da loja que gere e de outras que recorrem aos seus serviços.
No fundo, associa essa tarefa ao trabalho na loja e na editora para sustentar aquilo que gosta de fazer. “Eu acho que um emprego que te satisfaça torna-te uma pessoa melhor. O teu comportamento muda muito”, considera João Santos.
Ter trabalho já não nos basta
Luísa Veloso, socióloga do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), especializada em domínios como Sociologia do Emprego e Sociologia do Trabalho e das Organizações, vê a relação entre emprego e felicidade como “uma questão fundamental”. “Para mim, é inquestionável o facto de o emprego ser um factor central na vida das pessoas. E penso que se torna muito desestabilizador quando [o emprego] não é bom”.
Tendo em consideração o nível elevado da escolaridade portuguesa, a socióloga compreende que as pessoas se venham tornando “cada vez mais exigentes”. No entanto, relembra que “há pessoas que fazem funções muito desqualificadas”.
“Existem estas duas realidades. No passado, havia uma espécie de contentamento apenas por se ter trabalho. Hoje em dia, procura-se fazer corresponder o salário com o emprego que se tem”, afirma.
Até poderia dar-se o caso de existirem pessoas que preferissem trabalhar em algo que lhes desse prazer, ainda que, por isso, fossem mal recompensados, mas Luísa Veloso considera que “se a remuneração não chegar para cobrir as necessidades, nenhuma profissão é satisfatória”. Porém, admite que tal “é relativo, (…) depende do que se compra e dos hábitos de família”.
Apesar de tudo, continuam a existir pessoas como João, que acumulam mais do que uma profissão para poderem desempenhar aquelas de que mais gostam, mas pelas quais não recebem tanto. Uma lógica laboral que, segundo Luísa Veloso, “não é nova”.