Bruna Parro: a arquitecta que vende Bimbys
Trabalhou, até Setembro, num dos mais importantes gabinetes portugueses. Mesmo assim, só conseguiu “ter independência” com a venda do robô de cozinha
Em Setembro, na véspera de ir de férias, recebeu a notícia. Trabalhava há quatro anos num dos mais importantes gabinetes de arquitectura portugueses. É verdade que o ateliê estava com menos trabalho, mas foi totalmente “apanhada de surpresa”. Dispensaram vários arquitectos, ficaram, por tempo determinado, os estagiários, uma situação sintomática dos dias que se vivem hoje no sector.
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Em Setembro, na véspera de ir de férias, recebeu a notícia. Trabalhava há quatro anos num dos mais importantes gabinetes de arquitectura portugueses. É verdade que o ateliê estava com menos trabalho, mas foi totalmente “apanhada de surpresa”. Dispensaram vários arquitectos, ficaram, por tempo determinado, os estagiários, uma situação sintomática dos dias que se vivem hoje no sector.
Com 28 anos, Bruna Parro nunca conheceu um contrato de trabalho. Trabalhou sempre a falsos recibos verdes. Para garantir alguma estabilidade, vende Bimbys desde a faculdade (licenciou-se na Universidade Técnica de Lisboa). É a essa actividade que se tem dedicado um pouco mais nos últimos tempos.
“A minha prioridade sempre foi a arquitectura, mas, em termos económicos, para poder ter a minha independência, sair da casa, comprar livros, viajar, nunca foi possível viver só da arquitectura.”
Sempre conciliou as duas actividades. Nos últimos meses estava a vender cinco Bimbys por mês, o que lhe rendia, de comissão, 1000 euros. Chegou a ter uma média de sete a dez equipamentos vendidos por mês. No ateliê, já nesta última fase, auferia entre 800 a 900 euros (sem descontos), uma “coisa ridícula”, um valor muito diferente do que Rui C. recebia em Londres (cerca de três mil euros).
E agora?
Actualmente, o sustento vem das vendas da Bimby, até porque vive sozinha há três anos. “Claro que não é isto que quero fazer”, evidencia. Tem-se multiplicado em contactos para arranjar um novo trabalho, mas até agora não encontrou nada certo. A baliza é o início do próximo ano. “Se até lá não encontrar nada, estou a pensar aceitar o desafio de uma amiga e ir para São Paulo, Brasil.”
Até agora não tem sentido uma “grande diferença” por ter trabalhado durante quatro anos num gabinete importante. O problema é que há “arquitectos a mais” e “arquitectura a menos”, diz, sublinhando a opinião de Pedro e Catarina do Estúdio 3. Por isso, não tem grandes expectativas quanto ao futuro dos jovens arquitectos portugueses que fiquem no país ("Sinceramente, nem sei o que pode vir a melhorar.”)
Na sua opinião, esta “desmotivação” começa logo no início, com os gabinetes a receberem estágios para a ordem com a frase: “É só para fazer o estágio.” Fecha-se logo uma porta e, da mesma maneira, o estagiário não se esforça. “Para quê que vou estar a dar mais de mim?” Bruna passou por isto, mas, apesar das críticas dos amigos, decidiu empenhar-se. E estava a resultar.