As marionetas são criaturas à espera de um museu
O projecto de João Paulo Seara Cardoso, fundador do Teatro de Marionetas do Porto, continua pelas mãos de Isabel Barros, actual directora artística
No número 22 da Rua das Flores, centenas de criaturas esperam, suspensas no ar por fios atados a estruturas expositivas, pousadas sobre mesas ou empilhadas junto ao espaço de restauro, pela abertura das portas do edifício já assinalado como “Museu de Marionetas do Porto”.
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No número 22 da Rua das Flores, centenas de criaturas esperam, suspensas no ar por fios atados a estruturas expositivas, pousadas sobre mesas ou empilhadas junto ao espaço de restauro, pela abertura das portas do edifício já assinalado como “Museu de Marionetas do Porto”.
Na porta, junto à reprodução do homem de chapéu de coco que simboliza a companhia de teatro, está afixado um aviso onde pode ler-se “em instalação”, aviso este que deverá ser retirado até Fevereiro do próximo ano.
“Tem que ser”, declara com determinação Isabel Barros, directora artística do Teatro de Marionetas do Porto, porque “é realizar um sonho que ficou por realizar em vida do João Paulo [Seara Cardoso]”. “Da nossa parte haverá esse esforço para que seja mesmo feito, com apoio ou sem apoio”, garante.
Até lá, espera-se pelas respostas a pedidos de apoio financeiro e finalizam-se as obras no rés-do-chão e no primeiro andar. O segundo já é habitável e habitado por personagens como Fredo Brilhantinas, do famoso e muito apreciado espectáculo de revista "Vai no Batalha" (1993), a peça da companhia que esteve mais tempo em cena, por um Macbeth vestido de cabedal vermelho, da adaptação de Seara Cardoso (2001) da intemporal tragédia de Shakespeare ou por Porquito de "Joanica-Puff", uma versão (1995) de madeira e couro de Piglet do "Winnie-the-Pooh" de A. A. Milne.
Cerca de 1200 peças
Ao longo de 23 anos, a companhia coleccionou cerca de mil e duzentas peças, 600 das quais vão estar expostas no museu para representar “a própria história da companhia”. Marionetas que agora estão imóveis, mas cujas vivazes actuações vão ser relembradas, por exemplo, através da projecção de vídeos das peças, e que podem mesmo voltar à vida.
“Elas não ficam imóveis para sempre, à partida estão aqui, depois podem vir a ganhar de novo vida”, explica a coreógrafa. A outra metade das marionetas, das “criaturas”, como são apelidadas por Isabel Barros, está no armazém contíguo ao Teatro do Belomonte.
Neste espaço há caixas, caixotes e caixinhas armazenados em prateleiras desarrumadas onde mais marionetas esperam para ser desempoeiradas, restauradas e expostas, para serem partilhadas com o público. “Agora sem o João Paulo fisicamente presente, [há] uma necessidade de partilha ainda maior, portanto era impossível deixar este projecto assim, por acabar”.