Isto não é um filme porno, são só revistas
Não é só de “Playboy” e “Penthouse” que se faz o mundo das publicações eróticas
“Il y a une règle non écrite, qui veut que quand un homme touche ce point, la femme se réveille.” Tradução livre: existe uma regra implícita que estipula que quando um homem toca neste ponto, a mulher acorda. O ponto G, portanto, existindo ou não.
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“Il y a une règle non écrite, qui veut que quand un homme touche ce point, la femme se réveille.” Tradução livre: existe uma regra implícita que estipula que quando um homem toca neste ponto, a mulher acorda. O ponto G, portanto, existindo ou não.
A frase é um dos destaques de “Sexostalgie: à l'Est, l'Eden”, de Soline Ledésert, publicado na revista erótica francesa “L'imparfaite” (n.º 2). O texto compara as práticas sexuais entre os habitantes da República Democrática Alemã ("L'est") e da República Federal Alemã ("L'ouest"). Um aparte: a RDA ganha.
Na “L’imparfaite” encontra-se também uma reportagem ilustrada sobre “La Fistinière” que, tal como o nome sugere, tem a ver com “fist”. Desfaça-se a curiosidade: “La Fistinière” é um hotel especializado em “anal fisting”, situado na comuna francesa de Assigny (aproximadamente 200 habitantes), em França.
São dois exemplos de apenas uma revista, mas que justificam um dos meus maiores vícios. Nos últimos anos, vejo-me a coleccionar, obsessiva e involuntariamente, publicações, muitas delas eróticas e pornográficas. Se viajo, não falho uma boa livraria. Passo horas na internet a namorá-las.
Editorialmente, o sexo foi maltratado durante anos a fio. Culturalmente também. Compro estas revistas porque abordam temas interessantes e, muitas vezes, praticamente desconhecidos. Em simultâneo, há um erotismo visual inteligente, transmitido desde a gramagem do papel à escolha dos “layouts” gráficos. No caso da “L'imparfaite”, não consigo deixar de me encantar com a simplicidade e sobriedade da capa, em que figura uma mulher nua a levitar. A imagem não é marcadamente pornográfica, mas convida a um erotismo subtil e bem mais criativo.
Sexo sem freio
Não é só de “Playboy” e “Penthouse” que se faz o mundo das publicações eróticas. Foram muitos os projectos interessantes que surgiram no passado. Retrocedendo umas décadas, há que destacar o reconhecido trabalho gráfico (e tipográfico) de Herb Lubalin para a revista “Avant Garde”, uma publicação concebida por Ralph Ginzburg (ver também Eros e Fact), em 1968, alvo de duras críticas por parte da sociedade e do governo americano.
Por outro lado, e num registo mais indecente, há que referir a “New Gentlemen's Club”, uma revista de arte para adultos, formada por “a team of pervert editors and art directors”. Nesta publicação de 11,5 cm/16,5 cm, a preto e branco, não há espaço para tabus. A capa do n.º 2, por exemplo, é uma fotografia de um chinelo com sémen (ou será saliva?). O ambiente é “dirty”, sem freio. Num só fôlego: dildos, masturbação e sexo explícito, orgias loucas, mulheres violentadas em Juárez, práticas sadomasoquistas, ejaculação masculina e feminina, poemas porno.
Quem conhece o trabalho de fotografia de Jonathan Leder já deu de caras, muito provavelmente, com “Jacques”, uma revista que resgata um erotismo mais clássico. A menina da capa poderia ser perfeitamente a nossa irmã, mãe ou melhor amiga. Não há silicone, não há grandes produções. Existe sim um erotismo bucólico e cinematográfico que nos leva para uma realidade que não é a nossa, mas que, estranhamente, nos é próxima.
Um erotismo inteligente. Missão cumprida.