Sair para não mais voltar
O desemprego fê-la emigrar. Foi para a Austrália tirar um curso e arranjou emprego em menos de um mês. Regressar? "Preferia ir trabalhar para o Afeganistão", diz Helena Santos
Foi jornalista durante 10 anos, até ao dia em que a empresa decidiu fazer cortes por causa da crise. Durante meio ano, Helena Santos enviou currículos todos os dias, para todos os lados: jornais e televisões primeiro, depois empresas de assessoria, mais tarde banca, "call centers", supermercados e restaurantes. Respostas? Zero.
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Foi jornalista durante 10 anos, até ao dia em que a empresa decidiu fazer cortes por causa da crise. Durante meio ano, Helena Santos enviou currículos todos os dias, para todos os lados: jornais e televisões primeiro, depois empresas de assessoria, mais tarde banca, "call centers", supermercados e restaurantes. Respostas? Zero.
Uma licenciatura e uma pós-graduação não eram suficientes. E Helena decidiu investir mais na educação: “Sempre pensei em fazer um mestrado e depois de ficar sem emprego o meu marido teve a ideia de o fazer na Austrália”. Era o momento certo.
Um amigo tinha-lhe falado da Information Planet, uma agência que ajuda pessoas a viajar para a Austrália, e foi lá que procurou informações: “Sabia que queria qualquer coisa relacionada com economia, mas não sabia o que era”, diz a jovem, de 32 anos.
Ir é fácil, ficar é mais difícil
Aterrou em Sydney no dia 8 de Fevereiro deste ano. No dia 23 já tinha um emprego para ajudar a sustentar a vida na Austrália: trabalha num café da Macquire University, onde está a fazer um mestrado em International Business, e com 40 horas de trabalho quinzenais ganha entre 800 e 1000 dólares. Na TVI, onde trabalhava, ganhava 902 euros por mês.
Queria ficar na Austrália para sempre, mas sabe que não será fácil: “O país é muito bom e eles sabem disso, por isso todos os anos redefinem as quotas de imigração”. Há uma lista de profissões desejadas no país – “A minha profissão não está na lista e o meu curso é de menos de dois anos, o que me impede de pedir a residência”, explicou ao P3, a partir de Sydney.
A ideia de voltar a Portugal deixa-a doente. “Estou preparada para arranjar emprego em qualquer parte do mundo”, garante. Não há meias palavras: “Só volto a Portugal se não tiver mais nenhuma hipótese. Preferia ir trabalhar para o Afeganistão. Se tiver de regressar não descanso enquanto não sair outra vez”.
Sydney, uma cidade para todos
A mágoa pelo país é óbvia – “Se pudesse, tornava-me cidadã australiana amanhã” - e Helena Santos garante que, tal como ela, existem muitos portugueses com a mesma vontade: “Não quero contribuir com nem mais um cêntimo para a economia desse país”, assegura.
A Austrália apagou “o medo de sair da zona de conforto” e a paixão por Sydney foi imediata: “É uma cidade gigantesca, mas ao mesmo tempo não se sente o rebuliço”. Há pessoas de todo o mundo e a sociedade aprendeu a viver com isso de forma que garante ser exemplar: “Não se sente xenofobia em lado nenhum, ninguém nos trata de forma diferente por termos um ‘accent’ diferente”.
O investimento que está a fazer é grande: o mestrado custa 39 mil dólares. O trabalho que arranjou na Austrália serve para o resto - habitação, alimentação e livros. Em Junho do próximo ano, quando terminar o curso, há-de fazer tudo para ficar por Sydney. "Até ao último dia do meu visto vou tentar", conclui.