Tintim na terra de D. Afonso Henriques

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O filme chega hoje às salas de cinema portuguesas DR

Ao princípio da tarde de segunda-feira, a entrada do Centro Cultural Vila Flor parecia o recreio de uma escola primária: as crianças saltavam, riam, gritavam, enquanto os professores e educadores tinham alguma dificuldade em mantê-las no alinhamento previsto para a entrada no auditório. Mais de meio milhar de alunos foram repescados nas escolas do ensino básico e secundário do concelho de Guimarães para verem, em absoluta antestreia nacional, a tão esperada adaptação que Steven Spielberg finalmente concretizou de "As Aventuras de Tintim" - que hoje chega a 117 ecrãs do circuito comercial português.

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Ao princípio da tarde de segunda-feira, a entrada do Centro Cultural Vila Flor parecia o recreio de uma escola primária: as crianças saltavam, riam, gritavam, enquanto os professores e educadores tinham alguma dificuldade em mantê-las no alinhamento previsto para a entrada no auditório. Mais de meio milhar de alunos foram repescados nas escolas do ensino básico e secundário do concelho de Guimarães para verem, em absoluta antestreia nacional, a tão esperada adaptação que Steven Spielberg finalmente concretizou de "As Aventuras de Tintim" - que hoje chega a 117 ecrãs do circuito comercial português.

Havia crianças dos dois anos até à idade adolescente, e este era um desafio calculado pela equipa de programação audiovisual da próxima Capital Europeia da Cultura: à tarde, a sessão era para os mais pequenos, com uma cópia dobrada em português; à noite, aos adultos era oferecida a versão original legendada. "A nossa preocupação é fazer a ponte geracional e estabelecer uma relação muito directa com a comunidade", explica ao PÚBLICO João Lopes, responsável pela programação audiovisual de Guimarães 2012.

Depois da entrada no Vila Flor, as crianças depararam com duas surpresas. A primeira foi ver nos ecrãs espalhados pelo hall do centro cultural os desenhos que tinham feito na escola sobre as aventuras de Tintim e que lhes tinham valido o convite para uma tarde diferente. "Para preparar a sessão, levei alguns livros e um powerpoint para a sala de aula, e cada aluno fez o seu desenho, mas sem ser a copiar por cima", explicava a professora Cristina, da Escola Básica do 1.º Ciclo de Monte Largo. A segunda surpresa foi a utilização dos óculos escuros para ver o filme em 3D. "Por que é que temos de pôr estes óculos? É por o filme ser a preto e branco?", perguntava a Maria João, oito anos, já sentada na sala.

Aqui, o frenesim e a gritaria haveriam de manter-se até ao início da sessão, que ocorreu com a inevitável meia hora de atraso. Muitas crianças estavam a entrar pela primeira vez numa sala de cinema. Mas também havia quem já tivesse estado no Museu Hergé, na Bélgica.

Iniciado o filme, a excitação e a gritaria voltaram, passados poucos minutos, impulsionadas pela mestria manipuladora de Spielberg. Depois de um início calmo e fiel à atmosfera mais belga do imaginário Tintim, com a recriação de um mercado do centro de Bruxelas, a câmara rente ao chão, assumindo a perspectiva dos mais pequenos, transforma a aparição de um negro pitbull a ameaçar o intrépido Milu num inesperado susto para muitas crianças. E algumas delas, as mais pequeninas, acabariam mesmo por sair da sala, para continuarem a brincar no hall.

A "ponte geracional" de que falava João Lopes tivera aqui um arco talvez demasiado largo, perante um filme que dificilmente funciona para crianças com menos de dez anos, como notou Yves Février. Mas a grande maioria divertiu-se e gritou durante todo o filme, mesmo se alguns não resistiram ao sono, embalados pelo cansaço natural, pela música e pelo calor de uma experiência fora da escola. No final, aquilo de que os alunos mais diziam ter gostado era de ter sentido as personagens quase a tocar as suas cadeiras e a cair-lhes no colo. "Com estes óculos, parece que está tudo tão perto de nós", dizia Inês, que já tinha experimentado os óculos quando viu o filme Entrelaçados. E o Rui, de 14 anos, tinha já sentido a mesma sensação quando viu "Shrek".

Esta "Operação Tintim" funcionou como "exercício de aquecimento" para a Capital Europeia da Cultura para a equipa liderada por João Lopes. O facto de se tratar da adaptação ao cinema de "um ícone da cultura popular europeia" e de ser uma produção em 3D justificaram a aposta na programação desta antestreia nacional, justificou o crítico e programador. "Mesmo se não temos a ilusão de poder criar uma indústria cinematográfica em Guimarães, vamos montar uma base tecnológica no domínio do audiovisual a partir da qual se poderão continuar a fazer coisas para além de 2012."

A dupla sessão com o Tintim de Spielberg serviu também ao programador e a outros responsáveis por instituições culturais de Guimarães para anunciar algumas das próximas iniciativas nestas semanas de aproximação a 2012. Entre elas, avulta a exposição de fotografia que, a 16 de Dezembro, vai ser inaugurada a mostrar o valioso espólio da antiga Foto Moderna (depois Foto Machado), que é propriedade da associação Muralha e foi recentemente resgatado dos fundos daquela loja já desaparecida. Os mais de sete mil negativos (a maioria ainda em chapas de vidro) permitem reconstituir instantâneos da vida pública e privada na cidade, entre 1905 e 1969, e o trabalho de restauro e digitalização vai já a meio caminho, nas instalações do Arquivo Distrital, sob a orientação de Eduardo Brito, que será o comissário da exposição e é o responsável pelo projecto patrimonial Reimaginar Guimarães. "Vamos organizar a exposição como uma narrativa cinematográfica", promete.

Leia a entrevista a Yves Février, representante do Museu Hergé, no PÚBLICO de hoje e na edição online exclusiva para assinantes.