Viver ou não viver num"kibutz"
O estilo de vida comunitário faz parte do passado? A crise veio questionar essa convicção: em Israel, a população dos "kibutzim" está a aumentar
A viagem demora cerca de hora e meia desde Jerusalém. Chegamos a Mishmar HaEmek a meio da manhã, sob um sol inclemente, e a primeira impressão com que ficamos é a de que entrámos num clube de campo: construções baixas e dispersas, muitas árvores e amplos relvados, e um ou outro idoso a deslocar-se em carrinhos de golfe.
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A viagem demora cerca de hora e meia desde Jerusalém. Chegamos a Mishmar HaEmek a meio da manhã, sob um sol inclemente, e a primeira impressão com que ficamos é a de que entrámos num clube de campo: construções baixas e dispersas, muitas árvores e amplos relvados, e um ou outro idoso a deslocar-se em carrinhos de golfe.
Mas não estamos num "resort". E quase não anda gente na rua porque estão todos a trabalhar. Nos "kibutzim" todos os que podem trabalham, mas ninguém recebe dinheiro. É atribuída uma verba a cada pessoa, de acordo com os anos de residência no "kibutz", a idade e o agregado familiar. Esta é a filosofia do "kibutz" – dá o que podes, recebe o que precisas. Há aproximadamente 270 comunidades destas activas em Israel.
A fábrica de transformação de plástico que existe em Mishmar HaEmek é uma importante fonte de emprego, como são as explorações agrícolas e pecuárias. "Podes ter uma profissão fora do 'kibutz', mas só se concordares em entregar o salário para receber o mesmo que os outros", explica Karin Chazan, a nossa anfitriã de 27 anos. Mas porque muitos estudam, há cada vez mais pessoas a trabalhar no exterior. "E vem gente de fora trabalhar em alguns serviços, como a fábrica, o refeitório ou os serviços informáticos", acrescenta.
Não há circulação de dinheiro
Os "kibbutzniks" (habitantes do "kibutz") não lidam com dinheiro. Mas também não precisam: não têm despesas e podem usufruir de inúmeros serviços. Há uma loja onde recolhem os produtos de que necessitam. Não pagam casa nem contas. Há um refeitório onde são servidas diariamente três refeições gratuitas. Há um serviço de lavandaria, há um pavilhão desportivo e uma piscina. Todos os serviços necessários – da saúde à educação das crianças – são providenciados pelo "kibutz".
Mishmar HaEmek funciona ainda "de acordo com as raízes", diz Karin. "Há 'kibutzim' que concessionam alguns serviços a privados, como, por exemplo, o refeitório", explica a nossa anfitriã. Outros acabam por fechar, seja por dificuldades económicas ou porque as pessoas querem um outro modo de vida. "A nossa situação financeira é boa e actualmente vivem aqui cerca de 900 pessoas", sublinha.
Com as dificuldades que a crise coloca na vida diária, a opção pela segurança da vida no "kibutz" tem vindo a atrair mais gente. A população destas comunidades tem vindo a aumentar: em 2010, segundo o Gabinete Central de Estatísticas de Israel, o número de habitantes no conjunto dos "kibutzim" já ultrapassava os 140 mil habitantes.