Le Roy quer conversa
Xavier Le Roy apresentou "Low Pieces" com os seus colegas no Festival Trama - e fez um apelo ao diálogo. O público reagiu com a atitude de uma sala de aulas do 6º ano do liceu
Foi domingo, dia 16 de Outubro. Final do Festival Trama, que decorreu de 13 a 16 de Outubro no Porto. Artes Perfomativas em força. Xavier Le Roy, francês de origem, apresentou "Low Pieces" com os seus colegas Salka Ardal Rosengren, Sasa Asentic, Krõõt Juurak, Neto Machado, Luís Miguel Félix, Jan Ritsema, Christine De Smedt, cada um de uma outra nacionalidade diferente.
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Foi domingo, dia 16 de Outubro. Final do Festival Trama, que decorreu de 13 a 16 de Outubro no Porto. Artes Perfomativas em força. Xavier Le Roy, francês de origem, apresentou "Low Pieces" com os seus colegas Salka Ardal Rosengren, Sasa Asentic, Krõõt Juurak, Neto Machado, Luís Miguel Félix, Jan Ritsema, Christine De Smedt, cada um de uma outra nacionalidade diferente.
Como tantos outros momentos da arte conceptual, performativa, "Low Pieces" fala-nos de dicotomias - objecto/sujeito; humano/não-humano; natureza/cultura. No entanto, como observadora e parte integrante da experiência que foi esta performance, considero que a maior dicotomia ali explorada foi a da relação/não-relação.
A peça impunha ao público um confronto, a criação de uma dinâmica, de uma interacção com o objectivo performativo. Iniciou-se com um apelo à conversa entre público e "performers". O tema? O que entendêssemos, em conjunto, explorar.
Fomos forçados a estabelecer uma relação com a peça, com os seus interpretes, e connosco - o público entre si. O público que nestas coisas, por mais entendido que seja em dança e performance, por mais que seja ele próprio "do meio", desconfia logo à partida desta postura sem barreiras, aberta e não hierárquica que a peça propõe.
Mais do que um comentário às imagens carregadas de conotações que "Low Pieces" apresentou - através de uma amálgama de corpos integralmente nus que se uniam num só, onde pernas, mãos e braços ganhavam vida própria -, interessante é reflectir sobre as reacções daquele público ao prelúdio (de luzes acesas) e ao epílogo (no breu) desta peça, que consistiu numa proposta de conversa.
"I want my money back", "does this have any meaning to the performance we will see" e outras banalidades mestafísco-filosóficas misturadas com ruídos, miados e outras onomatopeias formaram as reacções que o público teve ao pedido de conversa dos "performers".
Uma atitude carregada de preconceitos, vinda daqueles que justamente são o público preparado para ver e viver estas experiências. Uma atitude que em nada divergia de uma sala de aulas do 6º ano do liceu. Perguntei-me no final como será que o público reagiu nos outros países onde apresentaram "Low Pieces". Sentia-se um tom reaccionário nos dizeres, nos temas e perguntas colocadas. Provocações descontextualizadas que soavam a tentativas de sobreposição e controlo da situação em que a performance nos obrigava a viver.
Curiosa esta experiência, mais do que pelos corpos nus, brancos, velhos e novos, normais, em movimento, mas sobretudo pela reacção a um pedido tão quotidiano como "vamos conversar?".