Caty Olive: Uma teia de hipnotismo sagrado e visual

A cortina branca que separa o Lófte da cidade do Porto torna-se uma fronteira para um outro lugar. Entrámos em "Diacaustiques des Esprits", instalação integrada no Trama

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“Diacaustiques des Esprits” de Caty Olive Sofia Romualdo

Caty Olive, artista francesa que trabalha como criadora de luz e cenógrafa, propôs-se trazer para o Porto uma obra originalmente elaborada para a Abadia de Graville por ocasião da "Nuit Européenne des Musées" em 2001.

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Caty Olive, artista francesa que trabalha como criadora de luz e cenógrafa, propôs-se trazer para o Porto uma obra originalmente elaborada para a Abadia de Graville por ocasião da "Nuit Européenne des Musées" em 2001.

O Lófte, que ao longo da sua existência teve diversas encarnações, parece agora transformar-se num local de culto. Paira no ar uma veneração quase palpável, um silêncio e uma inquietação muda que poderíamos facilmente associar ao ambiente de uma catedral ou abadia, local para o qual esta instalação foi originalmente criada. O espaço, que se encontra quase vazio - excepção feita aos sofás antigos no nártex - alcança uma monumentalidade profundamente intimista. O Lófte é assim transformado numa nave totalmente despida, num templo sem religião, numa sublimação da luz das catedrais góticas. Apesar da transformação que a obra sofreu no Lófte, Olive demonstra que o sagrado na sua obra não depende do local onde se encontra.

O profano no sagrado

As cores quiméricas dançam como aquelas que vemos quando fechamos e esfregamos os olhos, como se o que estivéssemos a ver fossem "afterimages" da realidade, resquícios de formas e cores num fundo cinzento, resíduos de radiação electromagnética que, afinal, nos permite navegar no mundo, perdendo aqui toda e qualquer funcionalidade prática. O estímulo da retina é um fim em si. O efeito é alcançado através de raios de luz branca que viajam até copos da Coca-Cola (o profano no sagrado), pendurados como candelabros, repletos de líquido de várias cores. A luz é refractada, decomposta, transformada em corpos etéreos com vida própria, num complexo de redes e manchas de cor.

O título da obra, “Diacaustiques des Esprits”, encerra em si a dicotomia entre o físico e o imateral, o equilíbrio entre o rude e o etéreo, entre o estímulo e a tranquilidade. "Diacaustique" refere-se a uma curva formada pela refracção da luz. Uma substância cáustica é aquela capaz de queimar, de corroer ou destruir. A orgânica dos movimentos invoca o imaginário dos espíritos tornados visíveis, formas de vida que se expandem e desvanecem, transcendendo o espaço e adquirindo contornos de galáxias e nebulosas distantes.

Esta é uma obra que tem ser experienciada "in situ", em que o todo é mais que a soma das partes. O efeito tranquilizador e hipnotizante dos jogos de luz convida o visitante a imergir-se na obra, a permanecer e deixar-se desvanecer nela.