"Mais do que insatisfeitos, sejamos trabalhadores"

Temos de ser capazes de olhar para além do nosso umbigo, para além da nossa carteira, para além do nosso círculo de amigos e dos nossos hábitos

Foto
Daniel Rocha/arquivo

Este sábado, dia 15 de Outubro, um pouco por todo o mundo, haverá gente em praças, ruas e avenidas de muitas cidades, num protesto mundial pacífico, reclamando por aquilo que apelidam de "verdadeira democracia".

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Este sábado, dia 15 de Outubro, um pouco por todo o mundo, haverá gente em praças, ruas e avenidas de muitas cidades, num protesto mundial pacífico, reclamando por aquilo que apelidam de "verdadeira democracia".

Os movimentos que organizaram esta manifestação mundial entendem que a austeridade não resolve os problemas económicos actuais e consideram que a crise não é apenas económica, mas sobretudo política, nomeadamente no que respeita ao projecto europeu. 

Por isso, exigem a substituição do modelo de democracia representativa existente, que dizem estar ultrapassado, e reclamam a democratização da economia, fundada num novo modelo assente em duas premissas: a garantia de acesso incondicional ao rendimento e o livre e efectivo acesso aos direitos sociais e políticos. Sou dos que acreditam que a apatia e o conformismo não são solução para coisa nenhuma.

Foto
Mais do que lutadores pacíficos, sejamos trabalhadores afincados, diz Maria de Deus Botelho Daniel Rocha/arquivo

Sou apologista das reclamações, das manifestações de protesto e das exigências de cumprimento do assumido, desde que tudo se faça sem violência, com urbanidade e respeito pelo outro. Mas tenho para mim que, num momento como o actual, a forma de ultrapassarmos este estado de coisas não passa pela saída para a rua, não envolve gritos de revolta (ainda que justamente a sintamos) nem palavras de ordem contra isto ou aquilo. Nos tempos que correm deve haver, de todos e de cada um, um particular sentido de responsabilidade.

Todos somos parte da solução, todos temos um papel enquanto intervenientes na mudança. Mas, para que cumpramos a nossa parte, temos de ser capazes de olhar para além do nosso umbigo, para além da nossa carteira, para além do nosso círculo de amigos e dos nossos hábitos.

Haverá sacrifícios exigidos a muitos (e, infelizmente, talvez não a todos, como se desejaria). Haverá grandes dificuldades no futuro. Haverá, seguramente (ainda), muito mais a fazer para melhorar o estado da nossa economia, do nosso país e do mundo em que vivemos.

Acredito, porém, que é possível ultrapassarmos isto, desde que o façamos com trabalho árduo e espírito de sacrifício. Mais do que lutadores pacíficos e manifestantes insatisfeitos, sejamos trabalhadores afincados e homens e mulheres modestos e contidos. Porque, apesar de tudo, ainda acredito nas palavras de Winston Churchill: "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos."