A crise explicada como se fôssemos mesmo muito estúpidos
Até 4 de Novembro, a companhia de teatro Visões Úteis mostra, em “Boom & Bang”, como isto que parece um drama também pode ser uma comédia
O cataclísmico Orçamento de Estado para 2012 pode estar a cair-nos em cima da cabeça (e a levar-nos couro e cabelo), mas talvez ainda tenhamos três euros no fundo do bolso para ir tomar um cafezinho com a companhia de teatro Visões Úteis – isto se quisermos ficar a saber como é que começou esta crise em que estamos enterrados até ao pescoço (saber onde vai parar, infelizmente, é bastante mais difícil).
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O cataclísmico Orçamento de Estado para 2012 pode estar a cair-nos em cima da cabeça (e a levar-nos couro e cabelo), mas talvez ainda tenhamos três euros no fundo do bolso para ir tomar um cafezinho com a companhia de teatro Visões Úteis – isto se quisermos ficar a saber como é que começou esta crise em que estamos enterrados até ao pescoço (saber onde vai parar, infelizmente, é bastante mais difícil).
“Boom & Bang”, a peça que o Visões Úteis estreou em Março de 2010 e que agora repõe até 4 de Novembro, às quintas e sextas, na Fábrica Social – Fundação José Rodrigues, é um mergulho estupidamente divertido nos bastidores (bastante imundos, diga-se) da alta finança internacional e um relato dos dias em que o mundo assistiu ao princípio do fim da economia de mercado.
Um escândalo no BPN e uma intervenção do FMI depois – na altura em que a companhia fez “Boom & Bang” pela primeira vez ainda não sabíamos da missa a metade… –, continuamos a precisar que nos expliquem, como se fôssemos mesmo muito estúpidos, como é que de um momento para o outro o capitalismo deixou de ser a salvação e passou a precisar de ser salvo.
Ainda nos pagam um café
A peça do Visões Úteis é, diz a companhia, um “breve contributo teatral para a compreensão da crise financeira” – se é que é possível compreender a mecânica por trás do “crédito securatizado” e dos “activos tóxicos”, entre outros palavrões usados no espectáculo.
Reescrito a partir de “The Power of Yes”, do dramaturgo britânico David Hare, o texto foi completamente adaptado à realidade portuguesa – e é por isso que ouviremos falar em Oliveira e Costa, Armando Vara, Miguel Cadilhe e Dias Loureiro, entre outros suspeitos do costume. “A ida do Oliveira e Costa à Comissão Parlamentar de Inquérito foi mesmo uma piada de mau gosto. Toda esta história é uma palhaçada. E nós transformamo-la numa palhaçada assumida, com as nossas All Star de imitação”, dizem Carlos Costa e Ana Vitorino.
Lições a tirar da crise: não acreditar que é possível ter mais dinheiro, mais depressa: “Venderam-nos a tanga de que o mercado é decente, e os nossos filhos vão crescer endividados por causa dessa tanga. Mas a verdade é que todos caímos na burla entusiasmados com essa promessa”.
Agora, por três euros, eles contam-nos como foi que batemos no fundo – e no fim ainda nos pagam um café, para sairmos um bocado mais animados.