Berlusconi vai enfrentar voto de confiança depois de derrota no Parlamento

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Berlusconi já sobreviveu a várias moções no Parlamento Ammar Abd Rabbo/Reuters

Depois de diversos escândalos políticos, a perda de uma votação importante no Parlamento na terça-feira, parece ter sido a última gota num copo já cheio para o Presidente italiano, Giorgio Napoliano, pôr em causa o Governo de Silvio Berlusconi. Napoliano questiona se o regime de direita será capaz de tomar decisões vitais para o país, incluindo medidas de combate à crise.

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Depois de diversos escândalos políticos, a perda de uma votação importante no Parlamento na terça-feira, parece ter sido a última gota num copo já cheio para o Presidente italiano, Giorgio Napoliano, pôr em causa o Governo de Silvio Berlusconi. Napoliano questiona se o regime de direita será capaz de tomar decisões vitais para o país, incluindo medidas de combate à crise.

O primeiro-ministro italiano parece cada vez mais desacreditado. Depois de o Governo de Berlusconi ter perdido a votação sobre a moção que aprovava as contas públicas do ano passado, Napoliano disse, em comunicado, que o primeiro-ministro deve dar uma “resposta credível” à nação.

O Presidente falou também de “tensões agudas” dentro do Governo e referiu graves atrasos nas políticas de recuperação económica. Levantando ainda uma série de “questões e preocupações”, Napoliano acrescentou, citado pela Reuters: “A questão é se a maioria do Governo... é capaz de funcionar com uma coesão constante, necessária para garantir a adopção de medidas que não podem ser adiadas”.

Horas depois do comunicado, para perceber se a maioria do partido ainda é viável e reprimir uma rebelião interna, o primeiro-ministro anunciou um voto de confiança ao seu Executivo. Berlusconi falará esta quinta-feira na Câmara dos Deputados e “levantará a questão da confiança sexta-feira para pôr fim à turbulência política causada pela rejeição da moção” sobre as contas públicas, declarou, citado pela AFP, o líder dos deputados do Povo da Liberdade (PdL, no poder), Fabrizio Cicchitto.

Ainda sobre a derrota na votação, Berlusconi dá a entender que não existem motivos para preocupações. Assegura que a não aprovação do balanço das contas de Estado do ano passado foi apenas um “acidente” causado pela ausência de vários membros da coligação no Parlamento. O mesmo afirma Cicchitto, que rejeitou o potencial risco de uma crise de Governo. “A oposição está enganada se considera a votação [de terça-feira] como uma moção de censura do Governo."

Mas vários analistas políticos garantem o contrário e acreditam que alguns dos deputados que não votaram faltaram intencionalmente com o intuito de enviar uma mensagem sobre o profundo “mal-estar’” vivido no seio da coligação. É o caso do ministro da Economia, Giulio Tremonti, que está em constante desacordo com o primeiro-ministro.

Apesar de tudo, os politólogos afirmam que o Governo não deverá cair tão cedo, embora a sua capacidade de agir, nesta altura em que a economia está em grande pressão por parte dos mercados, esteja dificultada pelas disputas internas – principal preocupação de Napolitano. Também o presidente da Câmara dos Deputados, Gianfranco Fini, que rompeu com Berlusconi no ano passado, considerou esta votação de uma importância “sem precedentes”, porque o Governo está constitucionalmente obrigado a aprovar este tipo de documentos.

Muitos são os que têm vindo a afirmar que a Itália não recuperará a credibilidade enquanto Berlusconi não deixar o poder. Comentadores dizem que há a possibilidade de eleições na próxima Primavera, um ano antes do previsto. Massimo Franco escreveu no jornal "Corriere della Sera": “Poderíamos ter uma crise de Governo a qualquer momento e até caminharmos para eleições antecipadas”.

Já o chefe da bancada parlamentar do partido Itália dos Valores (oposição), Massimo Donadi, declarou que esta última derrota mostra um Governo perdido. “O Governo já nem tem um programa, não tem nenhuma coligação, não tem objectivos, excepto garantir o poder”, acusou.

Com a votação da Câmara, a oposição pediu que Berlusconi renunciasse ao cargo, argumentando que esta derrota mostra que o seu Governo já não tem uma maioria viável. À parte de Tremonti, outros membros importantes da coligação estiveram ausentes, incluindo o aliado-chave de Berlusconi, líder do partido Liga Norte, Umberto Bossi.

Berlusconi já sobreviveu a vários votos de confiança no Parlamento, mas a crescente especulação na imprensa sobre a existência de uma rebelião dentro do seu partido pode pôr um ponto final na sua liderança.