Sobreviver na Grécia é combater um inimigo sem rosto

É artista e dá aulas numa escola pública. Evi apelida a situação que jovens gregos vivem de injusta, mas tenta ser optimista

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Evi Apostolou, 33 anos, viu o salário ser diminuído em 300 euros

Evi Apostolou nasceu em Patras, a terceira cidade da Grécia, há 33 anos. Passou dez anos no Ensino Superior a concluir dois diplomas: Pintura, Escultura e Design de Palco e Multimédia. Dá aulas numa escola pública e, nos últimos meses, viu o seu salário ser diminuído em quase 300 euros.

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Evi Apostolou nasceu em Patras, a terceira cidade da Grécia, há 33 anos. Passou dez anos no Ensino Superior a concluir dois diplomas: Pintura, Escultura e Design de Palco e Multimédia. Dá aulas numa escola pública e, nos últimos meses, viu o seu salário ser diminuído em quase 300 euros.

"É completamente injusto que eu pague por algo que não sou responsável. Pago, mas não deveria ter de o fazer", diz, referindo-se aos impostos cada vez mais elevados. Recentemente teve de pagar, como qualquer funcionário público, uma contribuição extraordinária para os desempregados na Grécia, cujo número sobe todos os dias.

Há jovens a manifestarem-se nas ruas de Atenas de uma forma que Evi "nunca tinha visto antes", argumentando que "estudam durante muitos anos e depois não têm oportunidades". “Os mais jovens, aqueles que estão a sair das universidades, sentem que não têm qualquer futuro na Grécia.”

"A crise é uma espiral"

Como funcionária pública, Evi, que é também uma artista visual, já participou em várias greves, reuniões e conversações. "O meu ordenado está mais baixo do que nunca e vou perder o direito a subsídios e outros direitos. No sector público, a crise é uma espiral."

Trabalhar mais que nunca para sobreviver "Noutro país, com menos qualificações do que as que tenho, trabalharia em melhores condições, com um salário mais alto. Trabalho demais, mas, economicamente, não tenho um resultado que me satisfaça", conta.

Evi admite que teve de fazer cortes rigorosos no seu próprio orçamento. "Não podemos ter 'hobbies', são demasiado caros", diz. Cortou na compra de roupa, nas saídas ou no cinema.

Mudança no estilo de vida

Evi já não tem o mesmo tipo de vida que tinha antes de a crise rebentar a sério. Trabalha de manhã como professora e à tarde como pintora. "Na Grécia, hoje, trabalhamos porque queremos o dinheiro porque temos de sobreviver."

Já expôs em Nova Iorque, Itália, França e Canadá e admite que, na Grécia, a cultura foi secundarizada. "Como gregos, o nosso estilo de vida implica consumo cultural, mas primeiro está sempre o instinto de sobrevivência. Daí a arte estar a sofrer com a crise."

"As pessoas não sabem o que fazer. Sendo esta uma situação global, tenho um inimigo que não sei quem é nem como combater", desabafa, em entrevista por e-mail ao P3. Mesmo assim, no segundo a seguir, Evi tenta animar-nos e a si própria também: “tentamos ser optimistas. Afinal de contas, somos gregos!", ri.