Ser jovem na Grécia é “estar de mãos atadas”
São sobre-qualificados, pensam em emigrar e tentam arranjar convites para concertos. A Internet ajuda os jovens gregos a lutar contra a crise
"Muito desapontados" é como Marianna Vasileiou descreve o estado de espírito dos jovens gregos. Aos 27 anos, Marianna considera que os seus compatriotas "estão de mãos atadas". "São muito qualificados mas, mesmo assim não conseguem avançar."
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"Muito desapontados" é como Marianna Vasileiou descreve o estado de espírito dos jovens gregos. Aos 27 anos, Marianna considera que os seus compatriotas "estão de mãos atadas". "São muito qualificados mas, mesmo assim não conseguem avançar."
E quando esta jovem advogada se lhes refere, bem podia estar a falar dela própria. Vasileiou é a "definição de sobre-qualificada". O seu currículo inclui uma pós-graduação em Direito Criminal e Criminologia e já está na calha uma outra, em Bioética. Especializada em Feminismo e Estudos de Género, Marianna trabalha em Salónica, a segunda maior cidade da Grécia, e escreve sobre música para a imprensa independente.
"Desemprego e falta de dinheiro" são, inevitavelmente, as maiores preocupações que pairam sob a cabeça dos gregos mais jovens, mas o medo de que as coisas possam ficar ainda piores não lhes fica nada atrás. Marianna gosta de metáforas e tenta explicar: "É como se alguém te estiver a espancar e ainda assim teres a noção de que há mais golpes para vir. E tu sem poderes fazer nada contra".
Jovens saem e consomem menos
"Trabalhamos tanto como dantes e até mais, mas os salários ou descem ou mantêm-se inalterados. Ao mesmo tempo, os impostos sobem”, explica. Como resultado do aumento de encargos, os mais jovens "não saem tanto como saíam e quando o fazem tomam uma bebida em vez de duas, por exemplo".
Os hábitos de cultura também mudaram, ainda que o consumo em si não tenha diminuído, considera Marianna. “Em vez de irmos ao cinema, fazemos download de filmes", diz. E o mesmo acontece com a música. "Tentamos arranjar convites para concertos e trocamos livros em vez de os comprar", relata. "Thank God for Internet, actually!"
"Acho que a cultura não está em queda, muito pelo contrário. Os jovens gregos procuram produzir cultura: escrever, pintar, tocar em bandas”, enumera a advogada. A situação actual que a Grécia vive é, em si, inspiradora. “A arte é uma forma de lhe escapar, defende Marianna, que começou a escrever e a dançar num grupo de dança contemporânea.
Na Grécia, as universidades públicas não cobram propinas – apenas em alguns cursos de segundo e terceiro ciclos -, mas os orçamentos foram reduzidos, assim como as bolsas de estudo, actualmente "severamente limitadas". Marianna aponta o facto de a maioria dos estudantes serem "forçados a estudar na cidade onde os pais vivem", para assim ficarem com eles e evitarem despesas extraordinárias.
Soluções? Emigrar. Aliás, para Marianna, deixar o país afigura-se como "a única solução" para muitos, até porque "a Grécia não vai estar bem, pelo menos, nos próximos 10-15 anos". "Já pensei em emigrar milhares de vezes, mas o meu trabalho é um problema. O Direito é diferente em cada país", explica, pelo que a Grécia, mesmo em crise, é a única opção de Marianna. Ainda assim acredita: "Vamos sobreviver à crise".