Esperar que a crise passe é a única forma de lhe sobreviver
Ioannis Papageorgiou diz que os jovens gregos “estão a passar um mau bocado” e não se sentem responsáveis pela crise
"A situação dos jovens na Grécia é muito difícil", começa por dizer Ioannis Papageorgiou. A crise que este país do Mediterrâneo vive há já longos meses afectou, "principalmente, as pessoas que saem das universidades e que têm muitos problemas em encontrar um emprego", diz.
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"A situação dos jovens na Grécia é muito difícil", começa por dizer Ioannis Papageorgiou. A crise que este país do Mediterrâneo vive há já longos meses afectou, "principalmente, as pessoas que saem das universidades e que têm muitos problemas em encontrar um emprego", diz.
"Nós, os mais jovens, não nos sentimos responsáveis pela crise e, a curto prazo, não há optimismo no ar", explica o matemático de 33 anos, antes medo. "Ainda não vimos o pior. Há muita raiva contra o governo e contra as medidas de austeridade tomadas."
Depois de ter estudado Matemática na Grécia e no Reino Unido, Ioannis teve de deixar o país, "por razões que nada tiveram a ver com a crise económica". Talvez por isso prefira ver a "big picture" da situação do seu país natal e conduza a conversa para um plano mais ideológico do que prático.
Esperar anos para ter trabalho
Faz um esforço para racionalizar e acaba por considerar que, no longo prazo, "daqui por 10 ou 15 anos, talvez toda esta crise se transforme numa boa oportunidade para mudar algumas coisas más no país". Ioannis, que passou os últimos dois anos a trabalhar numa universidade estrangeira, considera impossível que muitos jovens "não se sintam deprimidos ao pensar que terão de esperar três ou quatro anos para ter trabalho".
"Além desta questão muito pessoal de saber se se vai encontrar um trabalho", prossegue Ioannis, "as pessoas têm medo do tipo de sociedade que pode existir nessa altura, daqui por 10 ou 15 anos. Será ainda mais capitalista, onde tudo girará à volta do dinheiro. Acredito que sairemos da crise mas seremos uma sociedade empobrecida. Toda a gente trabalhará muito, quase por nada".
À espera que a crise passe
O jovem matemático não tem dúvidas ao afirmar que as universidades "não são parte da solução para combater a crise". "O facto de os jovens desempregados serem grandemente qualificados não tem directamente a ver com situação que a Grécia vive actualmente. A crise acentuou este fenómeno, sim, mas sempre foi uma questão presente na sociedade grega", considera.
"Os jovens estão a passar um mau bocado”, diz Ioannis, mas a vontade das pessoas em emigrar “é mais discutida do que concretizada”. Os movimentos migratórios dentro do território grego são os que mais preocupam o matemático.
Jovens que deixaram as suas pequenas cidades ou vilas para estudar ou trabalhar em grandes cidades, como Atenas ou Salónica, estão a regressar a "casa", algo que compromete a independência e, até, a constituição de novas famílias. "Temos de esperar que a crise passe."