Uma garrafa, mas em cartão: nova forma de beber leite chega às lojas portuguesas
A bandeira lusa que acena calorosamente no céu de Lund, no extremo sul da Suécia, parece ignorar o frio nórdico, ansioso por ocupar o seu lugar neste último dia de Verão. É nesta pequena cidade universitária que se situam a sede, o laboratório e a fábrica da Tetra Pak - o que a fabricante de embalagens para alimentos líquidos chama "mundo Tetra Pak".
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A bandeira lusa que acena calorosamente no céu de Lund, no extremo sul da Suécia, parece ignorar o frio nórdico, ansioso por ocupar o seu lugar neste último dia de Verão. É nesta pequena cidade universitária que se situam a sede, o laboratório e a fábrica da Tetra Pak - o que a fabricante de embalagens para alimentos líquidos chama "mundo Tetra Pak".
Neste local híbrido, onde por entre os moinhos eólicos que pairam, ao longe, no mar e as incontáveis bicicletas que dominam o asfalto descobrimos alguma da mais avançada tecnologia, foi concebida a primeira embalagem de cartão em forma de garrafa para armazenar leite branco ultrapasteurizado (UHT): a Tetra Evero Aseptic (TEA).
A bandeira portuguesa hasteada é uma forma de a multinacional sueca acolher os jornalistas portugueses. Mas poderia assinalar também um outro dado fundamental: Portugal é o terceiro mercado em todo o mundo a receber esta embalagem que, promete Alexander Krivolapov, director de produto, significa um "passo em frente" na indústria do embalamento.
Em Portugal, a TEA está já a ser comercializada desde o final da primeira semana de Setembro com o leite da marca Matinal, detida pelo grupo Lactogal, embora ainda não esteja disponível em todas as superfícies. Antes do mercado nacional, o produto apenas foi lançado em Espanha e Itália.
"Podermos ser dos primeiros a verificar o impacto [da embalagem] no mercado junto dos nossos clientes e dos consumidores é, indiscutivelmente, um privilégio", afirma Vera Norte, directora de comunicação da Tetra Pak Ibéria.
Na opinião de Krivolapov, em Portugal "há claramente um nicho" para a nova embalagem, sendo uma boa rampa de lançamento. No mercado português, considera, "há, sobretudo, embalagens brick shape [tradicionais embalagens de cartão, numa forma que faz lembrar um tijolo], por isso é óbvio que os consumidores portugueses procuram diferenciação".
O segredo está na formaOs 233 mil metros quadrados do "mundo Tetra Pak" são invadidos, a meio, por uma linha de comboio. Aqui trabalham mais de duas mil pessoas. E só na concepção da nova embalagem e da máquina necessária à sua produção estiveram envolvidos, desde 2007, entre 300 e 500 trabalhadores.
Cinco anos e "algumas dezenas de milhões de euros" depois nasceu a TEA". A principal novidade é a forma arrojada: é a primeira embalagem de cartão asséptica a assumir a forma de garrafa. E este foi também o passo "mais difícil" no processo de criação. "Levámos quase dois anos a encontrar a melhor forma. Agora [a embalagem] parece muito simples, mas na verdade experimentámos à volta de mil conceitos diferentes", revela o responsável.
Apesar de o cartão ser a principal componente da garrafa (com capacidade para um litro de leite), o topo, incluindo a tampa e a membrana de segurança, é feito de plástico.
Mas será que esta nova embalagem é uma espécie de herdeira das icónicas garrafas de vidro para leite fresco? "Sim e não", responde Krivolapov. "É importante aprender a partir do passado, mas não diria que utilizámos a garrafa de vidro como referência", explica, argumentando que, ao invés de se "recordarem das embalagens de vidro", a maioria dos consumidores vão ver a TEA como "um passo em frente".
Ao combinar cartão e plástico, a TEA apresenta, segundo o responsável, a solução ideal. "Mantivemos todos os benefícios do cartão", que permite "conservar o leite à temperatura ambiente até seis meses", e "combinámos com a alta funcionalidade de outras fórmulas". Mas juntar "o melhor do mundo do cartão e o melhor do mundo do plástico" foi outro "desafio", conta Krivolapov, só possível de ultrapassar devido à nova máquina desenvolvida em Lund, denominada Tetra Pak A6 iLine.
A primeira máquina de enchimento da Tetra Pak, quando comparada à A6, é digna de um museu. Criada em 1946 - cinco anos antes da fundação da multinacional sueca -, esta rudimentar máquina de madeira está exibida junto à recepção como se fosse mais uma das inúmeras obras de arte que vão colorindo o "mundo Tetra Pak". Na altura, produzia cerca de 2000 embalagens por hora.
Volvido mais de meio século, a A6 multiplica este ritmo por cinco, ao produzir à volta de 10 mil embalagens por hora.
Ao contrário das suas antecessoras, a A6 faz tudo: cria, esteriliza e enche a embalagem. A principal vantagem deste modelo é a segurança. "As embalagens são enchidas e seladas dentro da câmara de esterilização para manter os produtos seguros dentro da embalagem antes que saiam da máquina", explica a engenheira Annika Sander.
Sem todo o aparato tecnológico, Jon Mikaelson não duvida que "seriam necessárias décadas para produzir um pequeno produto como este".
O jornalista deslocou-se a Lund a convite da Tetra Pak