Autoridades iranianas banem documentário que aborda corrupção policial no país
“Absolutely Tame Is A Horse” integrava a competição principal do Festival de Cinema de Abu Dhabi, um certame que nasceu em 2007 na capital dos Emirados Árabes Unidos, com os objectivos de “criar uma cultura cinematográfica vibrante por toda a região” e de “apresentar obras da autoria de realizadores árabes, lado a lado com os maiores talentos do world cinema”.
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“Absolutely Tame Is A Horse” integrava a competição principal do Festival de Cinema de Abu Dhabi, um certame que nasceu em 2007 na capital dos Emirados Árabes Unidos, com os objectivos de “criar uma cultura cinematográfica vibrante por toda a região” e de “apresentar obras da autoria de realizadores árabes, lado a lado com os maiores talentos do world cinema”.
A acção do documentário ocorre numa longa noite em Teerão e traz à tona exemplos de corrupção policial no Irão, que iriam ver a luz do dia também nos Estados Unidos, no Chicago’s Gene Siskel Film Center, no final de Outubro, durante um festival anual dedicado ao cinema iraniano.
Peter Scarlet, director executivo do Festival de Cinema de Abu Dhabi, garante que nenhum filme vai substituir o documentário de Abdolreza Kahani na competição. Scarlet lamenta que a censura das autoridades iranianas tenha impedido o intercâmbio cultural, um apanágio do evento. “Um festival de cinema é programado como uma plataforma para pessoas de diferentes culturas trocarem ideias e para o trabalho de um país ser visto noutro”.
“Não somos receptores passivos dos filmes que as pessoas apresentam. Vemo-los e é um prazer quando encontramos bons filmes e uma das nossas emoções é encontrar outros telespectadores para aquele filme. O facto da estreia mundial não acontecer, e segundo consta [o filme] não dever ser exibido em nenhum lugar, deixa-me muito triste”, comenta o organizador do festival.
Este episódio surge na sequência da prisão de cinco realizadores e uma produtora de cinema no Irão no passado dia 17 de Setembro. Esta decisão foi condenada pela Amnistia Internacional num comunicado público, em que clama pela "libertação imediata e incondicional" dos profissionais do audiovisual que a organização suspeita terem sido enjaulados na Secção 209 da Prisão Evin, em Teerão, um estabelecimento controlado pelos serviços secretos do Irão.
A nota da Amnistia Internacional avança ainda que no dia 19 de Setembro os media iranianos anunciaram a detenção de seis indivíduos não identificados por alegadamente terem “fornecido à BBC persa informação, filmes e relatórios secretos para pintarem um quadro negro do Irão e dos iranianos”. Mais tarde as autoridades publicitaram os nomes. Hadi Afarideh, Shahnam Bazdar, Naser Saffarian, Mohsen Shahrnazdar, Mojtaba Mir Tahmasb e Katayoun Shahabi, todos eles associados à indústria cinematográfica.
“This Is Not A Film”, um documentário da autoria do agora detido Mir Tahmasb e de Jafar Panahi [condenado no ano passado a seis anos de prisão], vai ser exibido na edição deste ano festival do DocLisboa - Festival Internacional de Cinema [de 20 a 30 de Outubro], “em solidariedade com os realizadores do filme e todos os cineastas iranianos”, de acordo com a organização. O documentário, realizado clandestinamente, é um relato de um dia na vida do realizador Tahmasb, enquanto aguardava o resultado do recurso da sentença lavrada pelas autoridades iranianas.