O melhor festival de música indie ao pé de casa

"Nunca mais nenhum festival português poderá apresentar os cartazes medíocres do costume e gabar-se de ser incrível"

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Paulo Pimenta

Para um fã de festivais (não confundir com festivaleiro, se faz favor) há uma vida pré-Primavera Sound e uma vida pós-Primavera Sound. Esta frase é uma óptima publicidade, mas não estou a escrever isto para ver se me dão um bilhete grátis. É tudo verdade.

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Para um fã de festivais (não confundir com festivaleiro, se faz favor) há uma vida pré-Primavera Sound e uma vida pós-Primavera Sound. Esta frase é uma óptima publicidade, mas não estou a escrever isto para ver se me dão um bilhete grátis. É tudo verdade.

Há uns anos, quando comecei a ir a festivais, tinha como objectivo de vida conhecer o Glastonbury, em Somerset (Inglaterra), o Coachella, na Califórnia, e o Festival au Desert, no Mali. Percebi rapidamente que não era pessoa para andar a chapinhar na lama – refiro-me ao Glastonbury – e que nunca iria ter dinheiro para ir aos outros dois.

Entretanto descobri o Primavera Sound, em Barcelona. Cartaz quase perfeito, recinto em plena cidade e a uma hora de avião low-cost. O ano passado marquei férias de propósito para lá ir, pela primeira vez. No final, apesar de ficar a precisar de dormir durante uma semana, dos problemas com os transportes no fim da noite e de ter gasto uns 70€ em bebida (não porque goste de matar o fígado, mas porque uma cerveja custa 3€ ou 4€), sabia que ia passar a fazer isto todos os anos.

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Tudo no Primavera é três vezes maior do que nos festivais portugueses: o recinto, a quantidade de pessoas, o cartaz (em três dias vê-se mais concertos do que num ano inteiro cá). É o "spring break" dos indies de todo o mundo – tanto se pode ver por lá o vizinho do lado como um polaco ou um americano. Miúdas e miúdos extremamente bem vestidos, como se tivessem saído de uma Nylon ou de um tumblr de moda. E, mais importante, um line-up com praticamente todas as bandas que interessam.

No Primavera ouvimos o pessoal novo que está a dar que falar nos Pitchforks e Altered Zones desta vida, aquelas bandas-fetiche que precisamos de ver para morrermos felizes (Pavement, Liquid Liquid, My Bloody Valentine, Glenn Branca Ensemble ou até os Animal Collective) ou os concertos-raridade, como os Suicide a tocar o primeiro LP.

Claro que a maior qualidade do festival é também um problema: com tantas bandas há, necessariamente, sobreposição de concertos, portanto é preciso fazer escolhas antecipadamente, com o horário na mão, e estar preparado para perder quase metade dos concertos que se queria ver. Mas vá, não se pode ter tudo.

Para o ano há mais, mas desta vez mesmo à beira de casa. Ainda não foram confirmados nomes (está assegurado o palco ATP, o que já é uma óptima notícia) e o "nosso" Primavera dificilmente estará ao nível do original. Mas, se por acaso passarem por lá nem que seja metade das bandas que estarão em Barcelona, vai haver um antes e um depois do Optimus Primavera Sound: nunca mais nenhum festival português poderá apresentar os cartazes medíocres do costume e gabar-se de ser incrível.