Pintar por cima da arte de rua é “acto de vandalismo”
Os críticos de arte discutem se a preservação da arte deve ou não depender do gosto popular
Uma criança está prestes a surpreender um sniper da polícia pronto a disparar, rebentando nas suas costas um saco de papel. Esta era a imagem que se via do Hospital Pediátrico de Bristol, até recentemente a obra de Banksy ter sido pintada de preto. O artista nada diz, como é seu apanágio, mas a população local está com ele.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Uma criança está prestes a surpreender um sniper da polícia pronto a disparar, rebentando nas suas costas um saco de papel. Esta era a imagem que se via do Hospital Pediátrico de Bristol, até recentemente a obra de Banksy ter sido pintada de preto. O artista nada diz, como é seu apanágio, mas a população local está com ele.
É um “acto de vandalismo”, concordam as pessoas ouvidas pela BBC naquela cidade do sudoeste inglês. Pode parecer estranho que se considere “vandalismo” a destruição de street art, uma pintura na parede, mas o valor artístico das intervenções de Banksy em Bristol é há muito reconhecida por quem lá vive.
Nos meios artísticos, Banksy é um nome de relevo – com a recente nomeação ao Oscar para melhor documentário, começa a sê-lo também no cinema. As suas obras são vendidas por dezenas de milhares de euros. É um caso de sucesso comercial que coincide com o gosto popular.
Não é novidade. Em 2006, a câmara de Bristol fez um inquérito online, para saber se se deveria recuperar uma obra de Banksy que tinha sido então vandalizada. A resposta (que, apesar de tudo, não pode ser extrapolada para o resto da população, como se faz com sondagens) foi retumbante: 93% disseram que sim.
Preservar ou nem por isso?
Na altura, os críticos de arte puseram as mãos à cabeça: a preservação da arte não deve depender do gosto popular, argumentaram. Em Agosto deste ano, a discussão foi levado ao nível seguinte: um investigador pós-graduado da Universidade de Bristol, John Webster, defendeu a classificação da obra, para que esta estivesse protegida por lei.
O estudo de John Webster, que se seguiu à destruição de uma outra obra em Julho, dizia que “há claramente um forte interesse no trabalho de Banksy” e que, por isso, este deve ser preservado – e que uma das formas de o fazer é através da sua classificação.
O que aconteceu em Julho foi que o novo dono de um edifício em Bristol, onde Banksy tinha pintado um gorila numa máscara cor-de-rosa, decidiu remover da parede o que considerou ruído. Quando foi confrontado com o facto de ter apagado uma obra de arte, o proprietário confessou que nem sequer conhecia o nome do artista.
O gorila foi, entretanto, parcialmente recuperado. O que ainda não é certo que seja possível com o sniper e a criança que habitavam há quatro anos a Upper Maudlin Street.