A volta ao mundo de Agatha Christie em cartas e fotos
A editora Harper and Collins vai lançar, em Abril do próximo ano, "The Grand Tour", um conjunto inédito de cartas e fotografias que Agatha Christie enviou à mãe enquanto viajava à volta do mundo.
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A editora Harper and Collins vai lançar, em Abril do próximo ano, "The Grand Tour", um conjunto inédito de cartas e fotografias que Agatha Christie enviou à mãe enquanto viajava à volta do mundo.
Em 1921, Archibald Christie, o primeiro marido de Agatha Christie, foi convidado pelo Governo inglês a organizar uma "tournée" promocional por todos os territórios que pertenciam ao Império Britânico, ou com ele mantinham ligações históricas, destinada a promover a célebre Exposição do Império, que seria inaugurada em 1924. Em Janeiro de 1922, a autora de "O Misterioso Caso de Styles" - além deste seu livro de estreia, só tinha ainda publicado uma segunda novela policial - parte com o marido para esta viagem à roda do Império, deixando a filha de dois anos, Rosalind, entregue aos cuidados da irmã.
Ao longo da viagem, que durará quase um ano e que a leva ao Havai e ao Canadá, à África do Sul e à Nova Zelândia, para citar apenas alguns dos inúmeros territórios que visita - um dos sítios onde fez escala foi a Madeira -, Agatha Christie vai escrevendo regularmente à mãe, ao ritmo de uma carta por semana. Descreve-lhe os locais exóticos que visita e o modo como é acolhida pelos habitantes locais, a par de trivialidades próprias da correspondência familiar, como os relatos de enjoos a bordo ou os seus sofrimentos com queimaduras solares.
Um dos tópicos que mais a entusiasma, referido nas cartas e ilustrado com fotografias, é o surf, que aprende a praticar na Cidade do Cabo, na África do Sul, e em Waikiki, no Havai. A escritora e o marido terão mesmo sido dos primeiros ingleses a aprender este desporto. O único exemplo anterior documentado de um britânico que sabia surfar de pé é o do príncipe Eduardo, futuro Eduardo VIII, que tinha estado no Havai dois anos antes, em 1920.
As numerosas e extensas cartas à mãe, acompanhadas de centenas de fotografias, foram preparadas para edição pelo neto de Agatha Christie, Mathew Prichard, que redigiu a introdução ao livro.
É provável que o gosto por viajar e conhecer locais exóticos, que Agatha Chrtie manterá até ao final da vida, tenha despertado nesta volta ao mundo. Muitos dos seus livros posteriores terão como cenário locais onde passou temporadas com o seu segundo marido, o arqueólogo Max Mallowan. E esta viagem de 1922, em particular a passagem pela África do Sul, inspirou directamente "o Homem do Fato Castanho", que publicou logo após o seu regresso a Inglaterra.
Mas Mathew Prichard, filho de Rosalind, realça também o facto de estas cartas nos mostrarem "os anos felizes" do casamento dos seus avós maternos, que se romperia no final de 1926, quando Archibald Christie assume que tem uma amante, Nancy Neele, dando origem ao célebre desaparecimento de Agatha Christie, que é febrilmente procurada durante duas semanas, até que a encontram num hotel termal, registada com o apelido da amante do marido.