Morreu José Niza, compositor de "E Depois do Adeus"

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José Niza ao lado de Manuel Alegre como seu mandatário durante a campanha para as presidenciais Foto: Carlos Lopes/arquivo

A filha de José Niza, Cristina Mendes, disse à Lusa que as causas da morte ainda não são conhecidas, explicando que o seu pai foi internado esta semana devido a uma insuficiência respiratória.

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A filha de José Niza, Cristina Mendes, disse à Lusa que as causas da morte ainda não são conhecidas, explicando que o seu pai foi internado esta semana devido a uma insuficiência respiratória.

"Isto foi uma grande surpresa para mim, ainda há dias falei com ele", disse ao PÚBLICO o escritor Manuel Alegre, amigo de José Niza, explicando que o compositor continuava a trabalhar. "Estava agora a escrever um livro. Ele era um grande artista, um homem de causas e de grande intervenção cívica", lembra Manuel Alegre.

Apesar de se ter destacado em várias áreas, foi na música que José Niza gravou o seu nome, tendo sido autor de muitas canções de Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Carlos Mendes, Duarte Mendes, Teresa Silva Carvalho, Vitorino, Fausto e Rui Veloso. Em 1972, em conjunto com José Calvário e Carlos Mendes, ganhou o Festival RTP da Canção com o tema "A Festa da Vida", proeza que voltaria a repetir no Festival da Canção em 1974, 1976 e 1987.

A música “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo Carvalho, e que ficou para a história como uma das senhas musicais do Movimento das Forças Armadas na revolução de 25 de Abril de 1974, foi também escrita por si.

Ainda na música, em 1971, José Niza passou a ser responsável pela produção da editora discográfica Arnaldo Trindade (Discos Orfeu), responsável pelo lançamento de alguns dos nomes mais importantes da música popular portuguesa, como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, Vitorino, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Manuel Freire, Carlos Mendes e José Calvário, entre outros.

Ao lado de Zeca Afonso, José Niza foi responsável pela gravação dos álbuns “Eu Vou Ser Como a Toupeira” (1972), “Venham Mais Cinco” (1973), “Coro dos Tribunais” (1974) e “Com as Minhas Tamanquinhas” (1976).

"Ele foi um dos artistas que mais contribuiu para a revolução da música portuguesa, trabalhou sempre com grandes nomes, destacou-se no Festival da Canção. Era um grande compositor", continua Manuel Alegre, parceiro de trabalho de Niza em várias ocasiões. "Éramos como irmãos."

Depois do 25 de Abril, José Niza deixou a editora Orfeu e passou a dedicar-se à política, sempre ligado ao Partido Socialista. Foi eleito deputado à Assembleia da República pelo círculo de Santarém e, em 1977 e 1978, ocupou o cargo de director de Programas da RTP. Em 1983 e 1984, voltou à RTP como administrador ligado à produção e, em 1985, regressou ao Parlamento, onde procurou sempre defender a música, tendo participado na elaboração da legislação relativa à obrigatoriedade de passagem de 50 por cento de música portuguesa nas estações de rádio. Deixou de ser deputado em 1999, mas manteve-se como assessor do presidente da Assembleia da República, Almeida Santos. Em 2006, José Niza apareceu ao lado de Manuel Alegre na campanha para as presidenciais, como seu mandatário.

E Manuel Alegre lembra: "Talvez muita gente não saiba mas ele foi um dos principais activistas na criação do Serviço Nacional de Saúde." "Foi um grande homem."

O funeral do compositor ainda não foi marcado mas Francisco Moita Flores, presidente da Câmara Municipal de Santarém, cidade onde José Niza residia, decretou três dias de luto municipal e anunciou que as cerimónias fúnebres vão acontecer nos Paços do Concelho.

O corpo de José Niza chega cerca das 19h de hoje a Santarém, ficando em câmara ardente no Salão Nobre dos Paços do Concelho, até ao funeral, marcado para as 11h de este sábado.

Fonte da Câmara Municipal de Santarém disse à Lusa que o corpo sairá dos Paços do Concelho às 10h, realizando-se uma hora depois a missa de corpo presente na capela do cemitério dos Capuchos.


Notícia actualizada às 17h22