Vik Muniz: "Não sou um artista revolucionário"
Artista brasileiro tem uma retrospectiva em evolução no Museu Berardo, em Lisboa, até 31 de Dezembro
O assistente de Vik Muniz abre a porta. Não é exactamente a casa de Vik Muniz, embora seja de Vik Muniz. Um quarto andar frente à praia de Ipanema. A entrada desagua num salão inteiramente branco, janela de parede a parede.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O assistente de Vik Muniz abre a porta. Não é exactamente a casa de Vik Muniz, embora seja de Vik Muniz. Um quarto andar frente à praia de Ipanema. A entrada desagua num salão inteiramente branco, janela de parede a parede.
Sai o assistente, entra o artista, camisa Lacoste, jeans, ténis, olho azul: um rapaz de 50 anos, excepcionalmente simpático. Abre a janela ao meio para mostrar o mar. Uma boa janela, com bons vidros, por causa do trânsito. "Vidros de aeroporto", diz ele, como quem mostra os seus brinquedos. Depois senta-se no sofá lateral, deixando a vista à visita.
"Vik", a retrospectiva da sua obra no Museu Berardo, que Vik veio inaugurar dia 21 de Setembro a Lisboa, é o pretexto da entrevista. As paredes em branco são para que nada concorra com o mar. O quarto andar é para ver tudo o que vale a pena: calçadão, praia, mar, céu. Vik Muniz procurou uma casa assim durante dois anos.
Nascido na favela
É um homem de metas. Ser o artista plástico brasileiro mais bem-sucedido no mundo não acontece por acaso, sobretudo quando se nasce na favela. E talvez por ter nascido na favela ele saiba o que os seus vizinhos nem sonham, por exemplo que o pescador em frente se chama Chico.
E esta é só uma casa onde Muniz vem de vez em quando. Quando está no Rio mora com a sua actual mulher no Leblon. Depois há a casa de Nova Iorque, uma quinta em Minas Gerais, e agora uma casa no Alto da Gávea, próxima já da favela da Rocinha. "Venho de uma favela, então não tem problema. É a casa mais linda que já vi, feita por um discípulo do Lúcio Costa. Muita pedra, muito Frank Lloyd Wright. Estou apaixonado. Vai ser a casa p'ra mim morrer ali."
É assim que ele fala. E sorri.
E esta casa? "É um lugar bom para ficar pensando, ler um livro, mas é bastante asséptico. Gosto disso também. Quando vou para Nova Iorque mando brasa, trabalho, trabalho, trabalho."
Nos últimos 29 anos morou sobretudo em Nova Iorque. Foi de lá que conquistou o mundo. Agora está a voltar para o Brasil. "Passo 10 a 12 dias em Nova Iorque e o resto aqui, quase todos os meses. Viajo só com um iPad, sem roupa, sem mala. Adoro. A coisa mais gostosa é só ter um passaporte. Meu plano é criar uma situação em que a parte mais intelectual do trabalho se desenvolve no Rio e a impressão e ampliação continuem sendo feitas entre Nova Iorque e Paris."
Para trabalhos em grande escala tem um armazém na periferia do Rio (junto à favela de Parada de Lucas), e está a construir uma ponte que permita fotografar de cima.
De repente levanta-se. "É a batida do coração da minha filha." Gravou-a numa ecografia para usar como toque do telemóvel. A mulher está grávida de quatro meses.
Lê o artigo completo no PÚBLICO