Júlio Resende sepultado junto do seu rio Douro
As mulheres da terra ficaram do lado de fora, sentadas em friso, no muro junto ao cemitério. Podia muito bem ser a representação física e humana de um quadro de Júlio Resende.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As mulheres da terra ficaram do lado de fora, sentadas em friso, no muro junto ao cemitério. Podia muito bem ser a representação física e humana de um quadro de Júlio Resende.
O autor da Ribeira Negra, falecido ontem, aos 93 anos, teria certamente gostado de imaginar assim a sua despedida duma vida longa e cheia, em que acompanhou sucessivos movimentos sociais e estéticos, e em que construiu uma obra pessoal e única, especialmente marcada pela luz (mesmo quando pintava a preto-e-branco).
O funeral do pintor realizou-se na tarde desta quinta-feira, numa igreja readaptada no início da década de 1980 pelo mesmo arquitecto (e amigo) que projectou a sua casa em Valbom, José Carlos Loureiro. O templo tem três vitrais, dedicados a S. Veríssimo, e uma Via-Sacra em quinze azulejos concebida pelo próprio Júlio Resende.
E os padres que presidiram à cerimónia fúnebre, marcada pelo intimismo e pela simplicidade – a pedido expresso do próprio pintor, como explicou o bispo-auxiliar do Porto, D. Pio Alves –, fizeram questão de trocar a cor roxa habitual nos funerais pelo verde com que Júlio Resende tinha decorado alguns paramentos para padres seus amigos.
O pintor, que se afirmava crente e humanista, continuava em sua casa, e junto do seu Rio Douro.