Qual é o nome do artesão que costurou a tua roupa?
Peças feitas à mão da marca IOU revelam quem as produziu e comprou - e Portugal já faz parte dessa história
Quando compramos roupa, pouco sabemos sobre o percurso que a peça fez até chegar ao nosso guarda-fatos. Com o objectivo de contrariar essa relação impessoal com aquilo que vestimos, um grupo de jovens criou este ano em Madrid o projecto IOU ("I owe you"). Cada peça é única e tem uma narrativa própria. Portugal já faz parte dessa história.
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Quando compramos roupa, pouco sabemos sobre o percurso que a peça fez até chegar ao nosso guarda-fatos. Com o objectivo de contrariar essa relação impessoal com aquilo que vestimos, um grupo de jovens criou este ano em Madrid o projecto IOU ("I owe you"). Cada peça é única e tem uma narrativa própria. Portugal já faz parte dessa história.
A IOU é uma marca de roupas produzidas à mão e vendidas online para todo o mundo. Todas as roupas e acessórios trazem um um código que, uma vez “lido” pela aplicação IOU para iPhone, revela o nome e a imagem dos tecelões e artesãos que a produziram. Os produtores têm rostos - e é possível vê-los em curtos vídeos na Internet.
Ao conhecer o percurso da peça adquirida, o comprador tem a oportunidade de também fazer parte da história através do envio de uma foto com a peça e da actualização do perfil no site da IOU. A ideia propagou-se pelas redes sociais e até já mereceu a atenção de figuras mediáticas como a Oprah.
Tecidos indianos, confecção portuguesa
Os tecidos são concebidos e manufaturados por tecelões em Tamil Nadu, no sul da Índia. O design e a confecção têm assinatura europeia. Portugal é um dos países onde as peças têxteis axadrezadas são recortadas e costuradas. Muitas das roupas enviadas pela IOU para o resto do mundo são feitas por artesãos portugueses na fábrica Mundicorte, em Santo Tirso.
Enrique Posner, um dos responsáveis da IOU, reconheceu num e-mail enviado ao P3 o trabalho “fantasticamente bom” desenvolvido pela Mundicorte.“Não é fácil encontrar uma confecção estabelecida no mercado que aceite adaptar os seus processos de produção. A ideia de acompanhar o processo de produção de cada uma das peças representa um desafio enorme, pois implica imensa perícia e organização.”
Portugal é o sétimo país no “ranking” de consumidores da IOU. Para já, foram enviadas para cidades portuguesas entre 30 e 40 peças de vestuário. “Não é muito, mas é um bom começo”, acredita Enrique. Há ainda portugueses a morar no estrangeiro atentos à marca.
A primeira peça da IOU foi, aliás, vendida a uma portuguesa residente em Singapura. Chama-se Fátima Ionescu e, numa crónica enviada ao P3, definiu a sua relação com a IOU com as palavras “orgulho” e “amor”. “Por alguma razão, o nosso projecto captou a atenção dos portugueses”, comenta Enrique.
O projecto conta com embaixadores-vendedores que promovem peças seleccionadas nos países onde residem. Carolina Coelho é a embaixadora portuguesa da IOU. Esta economista de 30 anos descobriu o projecto numa notícia do PÚBLICO e "identificou-se imediatamente com a filosofia de sustentabilidade e comércio justo".
A versatilidade é apontada como uma característica das peças IOU. A economista Mariana Gonçalves, de 30 anos, conheceu o projecto no Facebook e comprou “a peça mais versátil, um ‘madras scarf’, um lenço de pescoço que também pode ser utilizado como vestido, saia, toalha de pic-nic… é só dar asas à imaginação”. Há ainda casacos e vestidos reversíveis que, por terem um padrão diferente em cada um dos lados, tornam a mala de viagem mais leve.