Um planeta com dois sóis já não é ficção científica

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Uma representação do sistema estelar Kepler 16 NASA/JPL-Caltech

A descoberta foi feita graças ao Kepler, o telescópio espacial programado para detectar planetas fora do quintal do Sol. O investigador Laurance Doyle serviu-se dele para olhar para sistemas binários, ou seja, sistemas solares com duas estrelas.

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A descoberta foi feita graças ao Kepler, o telescópio espacial programado para detectar planetas fora do quintal do Sol. O investigador Laurance Doyle serviu-se dele para olhar para sistemas binários, ou seja, sistemas solares com duas estrelas.

“A maioria dos astrofísicos suspeita que é possível a formação de planetas à volta de duas estrelas, mas esta é primeira detecção definitiva e inequívoca de um planeta circumbinário [que gira em torno de duas estrelas]”, disse o investigador num podcast da Science, a revista científica onde o estudo foi publicado nesta quinta-feira. Doyle é co-autor do artigo, juntamente com mais quase cinco dezenas de pessoas de várias instituições dos Estados Unidos.

O cientista trabalha num instituto da SETI (procura de vida extraterrestre), na Califórnia, e desde que o Kepler foi enviado para o espaço, em 2009, tem estado a observar centenas de sistemas binários que estavam no campo de visão do telescópio, ou seja, num quadradinho do espaço que apanha as constelações de Balança e do Cisne.

O telescópio tem uma câmara do tipo grande angular que foi desenhada para detectar a luminosidade das estrelas com um detalhe fabuloso. Quando um planeta passa à frente do seu sol faz uma pequena sombra e a quantidade de luz que chega à Terra vinda da estrela diminui algumas fracções. O telescópio consegue detectar essa variação.

No caso de duas estrelas a girar uma à volta de outra, a máquina detecta os eclipses. Foram estes eclipses que Laurance Doyle andou a observar. Mas com o Kepler 16 houve algo que despertou a atenção dos cientistas.

“Via eclipses regulares, mas o meu olhar foi atraído para os eclipses extra que ocorriam fora de uma sequência e pensei ‘ou é um terceira estrela ou é um planeta’”, explicou Doyle. A equipa confirmou que existia um astro que passava à frente das duas estrelas, e criava eclipses diferentes.

Depois, através da medição do tamanho das duas estrelas, do grau dos eclipses criados pelo terceiro objecto e da influência que este tem nas órbitas dos sóis, os cientistas concluíram que só podia ser um planeta. “Acredito que seja, até à data, o planeta fora do sistema solar que tem a massa e o raio melhor medidos”, disse.

Apresenta-se então o Kepler 16. No centro de gravidade do sistema há duas estrelas e por isso nenhuma está no meio. A maior, com quase sete décimos do tamanho do Sol, é a que está mais próxima deste centro. A segunda estrela tem apenas um quinto do tamanho do Sol, é mais escura e menos quente. As duas estrelas têm um período de rotação de 41 dias e uma órbita excêntrica.

O planeta é grande - do tamanho de Saturno - e meio rochoso, meio gasoso, adianta o investigador. Tem uma órbita circular à volta dos sóis, com um período de 228 dias e tem uma temperatura média entre os 103 graus negativos e 70 graus negativos.

“Tudo está alinhado de uma forma belíssima”, referiu Laurance Doyle, explicando que isso sustenta a ideia de que este planeta surgiu do mesmo disco estelar que criou os dois sóis e não foi puxado pela gravidade das estrelas, vindo de outro lado do espaço. “Mais uma vez, o que era ficção científica passou a ser realidade”, disse em comunicado Alan Boss, outro autor do artigo, e Tatooine passou a ser possível.