Promoções agressivas no comércio para responder à temida crise de vendas no Natal

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Sector pode perder até 600 milhões de euros no Natal Nuno Ferreira Santos

A três meses do Natal, o comércio faz contas à vida e já está a planear estratégias numa tentativa de amparar a queda prevista nas vendas, na altura do ano mais importante para o negócio. As medidas de austeridade trazem aumentos do IVA já em Outubro e, em Dezembro, vão obrigar os portugueses a desembolsar parte do subsídio natalício. Por isso, se há algo com que o consumidor pode contar é com promoções cada vez mais agressivas e antecipadas.

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A três meses do Natal, o comércio faz contas à vida e já está a planear estratégias numa tentativa de amparar a queda prevista nas vendas, na altura do ano mais importante para o negócio. As medidas de austeridade trazem aumentos do IVA já em Outubro e, em Dezembro, vão obrigar os portugueses a desembolsar parte do subsídio natalício. Por isso, se há algo com que o consumidor pode contar é com promoções cada vez mais agressivas e antecipadas.

"Provavelmente, vamos assistir a partir de Outubro à continuação da desaceleração do consumo e em sectores como a moda a nova colecção não vai ter saída. Por isso, em Novembro e Dezembro haverá promoções já com valores elevados", prevê Vasco de Mello, vice-presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP). Os saldos de Inverno arrancam a 28 de Dezembro, mas ninguém vai esperar pelas datas oficiais para apostar em descontos. Os meses em que as montras não exibem promoções já se contam pelos dedos e, apesar de a época de saldos de Verão só terminar a 15 de Setembro, as promoções de Inverno não tardarão a chegar. Os impactos desta estratégia chegam não só ao bolso do comércio, que se debate com quebras nos lucros, mas também aos fornecedores, obrigados a esmagar as margens, alerta Vasco de Mello.

Lojas como a C&A preparam-se para esta campanha de vendas com um ano de antecedência. A cadeia de vestuário alemã tem um plano exaustivo delineado que inclui várias tipologias de descontos e promoções. Magda Santos exemplifica: descontos para uma base de dados de familiares e amigos clientes da marca, reduções de preços a meio da temporada e de 30% a 50% durante Outubro e Novembro, ou dias específicos de descontos em determinados produtos. A prioridade é o preço. E a cadeia aposta em "fórmulas" que permitam ao cliente vestir, por exemplo, por menos de 36 euros. Face a um ano inteiro de vendas, o Natal pesa 17% nas contas da empresa e 31% no total da temporada de Outono/Inverno.

Bem mais expressiva é a representatividade da época natalícia no negócio da Toys"R"Us, que tem oito lojas em Portugal: mais de 50%. Ricardo Quiroga, director de marketing para a zona ibérica, diz que estão a ser consideradas "medidas especiais, tendo em conta a situação especial que se viverá nesta campanha de Natal". As promoções serão "logicamente" uma das principais iniciativas, continua.

No El Corte Inglés esta também "é de longe [a campanha] mais importante". Susana Santos, directora de Relações Externas, não adianta grandes detalhes sobre as estratégias para baralhar a crise e vai dizendo que estão programadas várias sugestões de pacotes especiais a preços chamativos "que podem incluir um ou mais produtos". O cenário de restrição exige "um esforço acrescido de criatividade e atractividade", admite.

Pelas suas características, o retalho alimentar consegue distribuir o volume de negócio ao longo do ano, apostando em promoções na Páscoa, Dia da Criança e Regresso às Aulas, por exemplo. Mas nas maiores cadeias de hiper e supermercados, como o Jumbo, Pingo Doce ou Continente, o Natal é relevante para fechar o ano com bons resultados. A Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, tem uma equipa dedicada às campanhas do último trimestre do ano, mas não adianta detalhes sobre o que pretende fazer para inverter a contracção do consumo.

Por seu lado, fonte do Continente (do grupo Sonae, que detém o PÚBLICO) afirma que "as perspectivas para a época de Natal são sempre positivas". "De todos os meses do ano, este período é sempre o que regista um maior volume de vendas e maior movimento no hipermercado", adianta, acrescentando que para já ainda não foi definida nenhuma promoção para esta altura. A Auchan, dona do Jumbo e do Pão de Açúcar, também ainda não definiu a tipologia de promoções.

Tal como o PÚBLICO noticiou, pelas contas da CCP, o comércio deverá perder entre 500 a 600 milhões de euros na altura do Natal, quebra provocada pelo novo imposto extraordinário. E será sobretudo o pequeno comércio quem mais vai sofrer com a medida.