“Pequim é um pesadelo”, diz Ai Weiwei
Sem meias palavras, Ai Weiwei, que esteve preso 81 dias e foi libertado a 23 de Junho, atacou o Governo chinês, falou sobre o ambiente que se vive em Pequim e a opressão do regime feita aos cidadãos. Esta é a primeira vez, desde a detenção, que Ai Weiwei fala abertamente sobre a sua detenção e sobre o regime de Pequim.
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Sem meias palavras, Ai Weiwei, que esteve preso 81 dias e foi libertado a 23 de Junho, atacou o Governo chinês, falou sobre o ambiente que se vive em Pequim e a opressão do regime feita aos cidadãos. Esta é a primeira vez, desde a detenção, que Ai Weiwei fala abertamente sobre a sua detenção e sobre o regime de Pequim.
“Pequim são duas cidades. Uma é feita de poder e dinheiro. [...] A outra é uma cidade de desespero”, começa por escrever Ai Weiwei, evidenciando as diferenças existentes na sociedade chinesa entre aqueles que têm o poder e o resto dos cidadãos.
O artista critica o Governo pela crescente corrupção, pelo sistema judicial, assim como pela sua política de trabalhadores imigrantes, temas que têm gerado nos últimos tempos uma grande tensão social na China.
“Todos os anos chegam a Pequim milhões [de pessoas] para construir pontes, estradas, e casas... Eles são escravos de Pequim”, escreve Weiwei, denunciando a forma negligente como os imigrantes são tratados pelos homens do poder, “os chefes das grandes empresas”. “Eles [Governo] negam-lhes os direitos básicos. [...] Vêem-se hospitais que costuram os pacientes – e quando descobrem que os pacientes não têm dinheiro nenhum, tiram-lhes os pontos. É uma cidade de violência”, denuncia o artista.
Para Ai Weiwei, o pior na China é nunca se poder confiar no sistema judicial, lembrando a sua súbita detenção no aeroporto de Pequim quando tentava viajar. Só depois de um longo período de silêncio e sem se saber o paradeiro do artista, depois de muitas manifestações e pedidos de explicações, é que o Governo chinês contou o que se passava. Evasão fiscal, alegaram as autoridades. Mas Weiwei tem a certeza que foi detido ilegalmente pelas suas opiniões contrárias ao Governo.
O artista denuncia ainda os maus tratos e as más condições a que os presos estão sujeitos na China. “Só a tua família é que chora por estares desaparecido”, diz Ai Weiwei, contando que a sua mulher procurou saber junto das autoridades e do Governo o seu paradeiro e nunca lhe foi dada nenhuma resposta.
“Não sabes quanto tempo ficarás ali, mas acreditas verdadeiramente que eles podem fazer qualquer coisa contigo. Não há forma de questionar isto. Não estás protegido por nada”, escreve o artista sobre a sua experiência na prisão.
Contactado pela Reuters esta segunda-feira, Ai Weiwei confirmou que escreveu o artigo da Newsweek, explicando que o que disse tem por base a sua visão da vida em Pequim, acrescentando não saber as possíveis consequências de ter publicado este texto.
“Pequim é um pesadelo. Um pesadelo constante”, termina.