Chile identifica mais 9800 vítimas da ditadura de Pinochet
Uma comissão de investigação governamental passou os últimos 18 meses a analisar cerca de 32 mil processos de pessoas que alegam ter sido vítimas da ditadura militar no Chile e concluiu que existem mais 9800 pessoas que foram detidas ilegalmente ou torturadas do que se pensava. Um relatório anterior referia 27.153 casos de violações de direitos humanos, mais 3197 mortes e desaparecimentos.
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Uma comissão de investigação governamental passou os últimos 18 meses a analisar cerca de 32 mil processos de pessoas que alegam ter sido vítimas da ditadura militar no Chile e concluiu que existem mais 9800 pessoas que foram detidas ilegalmente ou torturadas do que se pensava. Um relatório anterior referia 27.153 casos de violações de direitos humanos, mais 3197 mortes e desaparecimentos.
O relatório da Comissão Valech foi entregue ao Presidente chileno, Sebastián Piñera, e chegou a novas conclusões. Não só houve mais 9800 detenções ou casos de tortura como morreram ou desapareceram mais 30 pessoas do que se pensava – 3227, ao todo.
Em 2009, a ex-presidente Michelle Bachelet ordenou a actualização dos relatórios anteriores. Foi então que a comissão começou a analisar cerca de 32.000 casos que lhe chegaram às mãos. “Recebemos 32.000 processos, e cerca de 9800 casos de vítimas de detenção e tortura e 30 casos de desaparecimentos e execuções extrajudiciais foram considerados válidos”, explicou aos jornalistas a vice-presidente da comissão, Maria Luísa Sepúlveda.
O número de vítimas poderá ser bastante superior, segundo a Associção de Familiares de Detidos e Desaparecidos do Chile. “Se 9800 casos puderam ser esquecidos em 1990, quando poderão sê-lo ser agora?”, pergunta a presidente da organização, Lorena Pizarro, citada pela AFP. “Vejam o número de acusações, o nível de repressão durante 17 anos. O número de vítimas até poderá chegar às 100.000.”
Segundo as normas da comissão, são reconhecidas como vítimas as pessoas que tenham sido detidas por questões políticas ou torturadas por agentes do regime ou pessoas ao seu serviço, bem como as vítimas de sequestros, desaparecimentos forçados ou execuções extrajudiciais entre 11 de Setembro de 1973 e 10 de Março de 1990. Cada uma das vítimas tem direito a uma pensão mensal de cerca de 180 euros.
Desde o fim da ditadura de Pinochet já várias comissões investigaram as atrocidades cometidas durante o regime militar. Primeiro a Comissão Verdade e Reconciliação, em 1991, depois uma outra comissão sobre prisão política e tortura. Conclui-se então que tinham existido mais de 27.000 casos de tortura e detenção ilegal e 3197 mortes e desaparecimentos. Agora sabe-se que esse número foi superior.
No Chile foram instaurados processos judiciais contra 700 antigos militares, por violações de direitos humanos, e cerca de 70 estão ainda detidos. Ainda no ano passado foi aberto um inquérito sobre 725 casos de vítimas da ditadura que nunca foram investigados.
Entre esses casos estava o de Salvador Allende, o Presidente socialista que governou o Chile durante mil dias até ser derrubado pelo golpe dos militares de Pinochet, que bombardearam o Palácio de La Moneda a 11 de Setembro de 1973. A dúvida, neste caso, era se Allende tinha sido atingido pelos militares ou disparado contra si com a AK47 que lhe tinha sido oferecida pelo amigo Fidel Castro. Após a exumação do corpo e uma nova autópsia os especialistas forenses concluíram que Allende se suicidou. Era essa, aliás, a tese mais consensual, defendida por quem estava com ele em La Moneda e pela família. A filha, Isabel Allende, sempre sublinhou que o pai preferia pôr fim à vida do que ser levado ao exílio pelos militares.