Ex-jornalista do News of the World garante que as escutas ilegais eram “discutidas abertamente”

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Escândalo levou ao encerramento do News of the World, a 10 de Julho Luke MacGregor/Reuters

A carta foi dirigida à direcção de recursos humanos da News International, a empresa do magnata australiano Rupert Murdoch a que pertencem vários órgãos de comunicação social, mas só agora foi divulgada pela comissão parlamentar encarregue de investigar o escândalo das escutas que, em Julho, levou ao encerramento do News of the World. O ex-jornalista Clive Goodman garante que os principais responsáveis do tablóide sabiam o que estava a ser feito, ao contrário do que têm alegado.

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A carta foi dirigida à direcção de recursos humanos da News International, a empresa do magnata australiano Rupert Murdoch a que pertencem vários órgãos de comunicação social, mas só agora foi divulgada pela comissão parlamentar encarregue de investigar o escândalo das escutas que, em Julho, levou ao encerramento do News of the World. O ex-jornalista Clive Goodman garante que os principais responsáveis do tablóide sabiam o que estava a ser feito, ao contrário do que têm alegado.

Goodman foi detido em 2007, juntamente com o detective privado Glenn Mulcaire, acusado de ter efectuado escutas ilegais enquanto trabalhava para o News of the World. Passariam quatro anos até ao encerramento do jornal, mas já nessa altura Goodman escreveu que “vários membros da equipa recorriam a procedimentos ilegais” para obter informações. E adiantou mesmo que o assunto era abertamente debatido na redacção até o editor Andy Coulson proibir que se falasse sobre isso.

O ex-jornalista acusa o próprio Coulson, que viria a integrar o gabinete de comunicação do primeiro-ministro David Cameron, de lhe ter prometido que teria de volta o seu emprego se não implicasse o jornal no escândalo das escutas. Goodman foi, até agora, o único jornalista condenado por ter feito escutas ilegais. Esteve detido quatro meses, entre Janeiro e Abril de 2007, e na altura a direcção da News International alegou que actuou sozinho e que não havia mais ninguém envolvido neste processo. Em Fevereiro desse ano foi-lhe comunicado que tinha sido despedido por conduta imprópria, e foi então que o jornalista escreveu uma carta, com data de 2 de Março, ao director de recursos humanos da News International.

O ex-jornalista considerou o seu despedimento uma decisão “perversa” e “inconsistente” por ter sido feita com o conhecimento e apoio de pessoas que refere na carta mas cujos nomes não foram divulgados. “Esta prática [de escutas ilegais] era amplamente debatida na reunião editorial diária, até que as referências explícitas a isso foram banidas pelo editor”, adiantou.

O proprietário da News International, Rupert Murdoch, o seu filho James Murdoch e a antiga directora do News of the World, Rebekah Brooks, já compareceram perante a comissão parlamentar britânica encarregue de investigar este caso e responderam a perguntas dos deputados, mas negaram qualquer conhecimento sobre a realização de escutas ilegais. Agora o presidente da comissão, o deputado trabalhista John Whittingdale, adiantou à BBC que é provável que James Murdoch volte a ser chamado a responder a novas questões, o que também poderá acontecer a outros responsáveis do grupo de Murdoch.

Um porta-voz da News International adiantou à BBC que a empresa “reconhece a gravidade das informações disponibilizadas à polícia e ao Parlamento e promete cooperar de forma construtiva com as autoridades”.

O escândalo das escutas no News of the World já deu origem a 12 detenções. Mais de 4000 pessoas terão sido visadas, desde 2000, entre elas membros da família real e o antigo primeiro-ministro Gordon Brown.