Queda de Airbus no Brasil estará relacionada com falta de treino dos pilotos

Foto
Pedaços do avião foram retirados do Atlântico a 29 de Julho de 2009 Reuters

O voo Rio-Paris, efectuado por um Airbus A 330 da companhia francesa Air France, levava 228 pessoas a bordo quando se despenhou no Atlântico, na madrugada de 31 de Maio para 1 de Junho de 2009. As caixas negras só foram encontradas no fundo do mar 23 meses depois, e a informação que continham foi a base do relatório agora divulgado pela BEA que põe em causa a experiência e a actuação dos pilotos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O voo Rio-Paris, efectuado por um Airbus A 330 da companhia francesa Air France, levava 228 pessoas a bordo quando se despenhou no Atlântico, na madrugada de 31 de Maio para 1 de Junho de 2009. As caixas negras só foram encontradas no fundo do mar 23 meses depois, e a informação que continham foi a base do relatório agora divulgado pela BEA que põe em causa a experiência e a actuação dos pilotos.

O documento agora divulgado não é ainda o relatório completo da BEA, que só deverá ser divulgado no início do próximo ano, mas já aponta algumas conclusões. Sublinha, por exemplo, que nos últimos minutos do voo os pilotos não deram a melhor resposta aos dois principais incidentes verificados: a perda de indicadores de velocidade e a perda de altitude do avião.

No relatório conclui-se que os pilotos “não identificaram formalmente a situação de perda de velocidade”, sublinhou a AFP, ainda que o alarme a alertar para esta situação tenha soado durante 54 segundos. A Air France adiantou, por outro lado, que o alarme de perda de altitude foi activado e desactivado por diversas vezes ao longo do voo sem que houvesse uma correspondência disso com a situação real do avião, o que terá confundido os pilotos e dificultado a análise que fizeram da situação.

Também não houve qualquer aviso aos passageiros sobre a existência de problemas técnicos, concluiu o relatório. Os especialistas também põem em causa a opção dos pilotos de, perante a perda de sustentação da aeronave, terem optado por direccionar a dianteira do aparelho para cima em vez de para baixo, para captar o ar num melhor ângulo, adianta a Reuters. A situação com que os pilotos se confrontaram será bastante rara em voos comerciais e a elevada altitude, por isso terão tido muito pouco treino específico.

As tarefas no “cockpit” também não terão sido distribuídas “de forma explícita”, adianta o diário francês “Le Monde”. O comandante do avião, Marc Dubois – com 58 anos, o piloto mais experiente do grupo – tinha-se retirado da cabina para o período de descanso de rotina, e os comandos ficaram a cargo do primeiro co-piloto, David Robert, de 37 anos e com cerca de 6500 horas de voo, e do segundo co-piloto, Pierre-Cédric Bonin, de 32 anos, com 2900 horas de voo.

O comandante saiu do “cockpit” às 2h01 da madrugada, as sondas Pitot que medem a velocidade terão congelado com o frio e deixado de funcionar às 2h10. Os comandos foram então assumidos pelo segundo co-piloto, que levantou o avião até alcançar os 37.000 pés (cerca de 11.400 metros de altitude). O aparelho saiu da sua trajectória e a queda viria a demorar cerca de três minutos e meio. Os pilotos não terão tido consciência, nos primeiros instantes, de que o avião entrara em queda livre.

As conclusões do novo relatório estão a ser postas em causa por familiares das vítimas no Brasil, que consideram que o desastre ter-se-á devido “a uma falha mecânica e não humana”, adiantou à AFP o presidente da associação de familiares das vítimas brasileiras, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho no acidente. E também essa a opinião de familiares das vítimas francesas e alemãs que põem em causa os argumentos que apontam para a responsabilidade dos pilotos e consideram que “questões económicas poderão estar a ultrapassar a procura da verdade”.

A Air France reagiu às conclusões do relatório ao defender que “nada permite, nesta fase, pôr em causa as competências técnicas da equipa” de pilotos. A par das conclusões sobre o desastre do voo AF447, a BEA deixa diversas recomendações e propõe, por exemplo, um aumento das horas de treino em pilotagem manual.