Grupo de golfinhos-comuns avistado no estuário do Tejo
“O golfinho-comum não tem tendência para formar populações residentes em estuários”, refere Miguel Couchinho, biólogo e dirigente do Projecto Delfim - Centro Português de Estudo dos Mamíferos Marinhos.
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“O golfinho-comum não tem tendência para formar populações residentes em estuários”, refere Miguel Couchinho, biólogo e dirigente do Projecto Delfim - Centro Português de Estudo dos Mamíferos Marinhos.
A autarquia anunciou a presença destes cetáceos no Tejo como um “possível indicador” da melhoria da qualidade da água do rio, depois do desvio dos esgotos de mais de 100 mil pessoas que iam directamente para o rio, no Terreiro do Paço. A relação entre os dois fenómenos, porém, não é linear. “Os golfinhos não são uma espécie indicadora da qualidade da água”, afirma Miguel Couchinho. Segundo este especialista – que estuda a única comunidade residente em Portugal, no rio Sado – os golfinhos toleram facilmente sítios poluídos, já que acumulam a poluição na gordura corporal.
Assim, sublinha, “é prematuro dizer que os golfinhos estão a regressar e que a sua presença se deve à melhoria da qualidade da água do estuário.” Podem ter sido atraídos para o rio por um animal ferido ou doente, ou por simples curiosidade, “mas com certeza não vão ficar”, garante, porque todos os anos há registo de entradas e saídas destes animais no estuário, sobretudo na Primavera e no Verão.
Outra explicação é avançada por Maria José Costa, coordenadora científica do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Segundo esta investigadora, a população de corvinas, que serve de alimento aos golfinhos, tem crescido nos últimos anos por causa do aumento da temperatura da água – nos últimos 30 anos, subiu cerca de um grau. “Pode estar relacionado, porque os golfinhos comem muito deste peixe”, afirma Maria José Costa. A opinião não é, porém, secundada por Miguel Couchinho: “É especulação.”
O estuário do Tejo teve, em tempos, uma população residente de golfinhos, que terá abandonado o rio na década de 1970. Para que estes cetáceos se voltem a fixar no estuário é preciso, por exemplo, reduzir o tráfego marítimo e de lazer. “O ruído subaquático dos barcos e as colisões são dois factores que os afastam”, conclui.