Morreu Roland Petit, o coreógrafo do glamour e do risco
Dizia muitas vezes que amara apenas uma mulher verdadeiramente - Zizi Jeanmaire, a bailarina que conheceu aos nove anos na escola do Ballet da Ópera de Paris (BOP) e com quem partilhou a vida e a carreira. É provavelmente ela quem mais sentirá a falta de Roland Petit, o coreógrafo francês que morreu ontem em Genebra, aos 87 anos, com uma leucemia. "Primeiro brincámos como brincam as crianças, em total liberdade, sem limites, e depois caímos nos braços um do outro e nunca mais quisemos separar-nos", contou numa entrevista televisiva em 2007.
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Dizia muitas vezes que amara apenas uma mulher verdadeiramente - Zizi Jeanmaire, a bailarina que conheceu aos nove anos na escola do Ballet da Ópera de Paris (BOP) e com quem partilhou a vida e a carreira. É provavelmente ela quem mais sentirá a falta de Roland Petit, o coreógrafo francês que morreu ontem em Genebra, aos 87 anos, com uma leucemia. "Primeiro brincámos como brincam as crianças, em total liberdade, sem limites, e depois caímos nos braços um do outro e nunca mais quisemos separar-nos", contou numa entrevista televisiva em 2007.
Ao longo de 70 anos - tornou-se bailarino da Ópera de Paris aos 16 -, Petit fundou várias companhias e criou mais de 100 obras, sempre inspiradas em Zizi, lembraram os jornais franceses, lamentando, nas palavras do Presidente Nicolas Sarkozy e do ministro da Cultura, Frédéric Mitterrand, a morte daquele que foi, com Maurice Béjart, um dos mais aplaudidos coreógrafos da segunda metade do século XX.
Ainda que a esmagadora maioria das suas criações não tenha entrado para o reportório internacional, Petit é um autor de referência, tanto por peças como "Le Jeune Homme et la Mort" (1946) e "Carmen" (1949), como pela forma de trabalhar a dança. Procurando sempre um equilíbrio entre a tradição do vocabulário balético e a modernidade na abordagem dos temas e do próprio movimento, Petit moldou uma linguagem coreográfica em que a teatralidade é fundamental. Demasiado popular, dirão uns. Arriscada, aberta ao glamour e à sensualidade, dirão outros.
A sua "Carmen" - originalmente dançada por ele e por Zizi - é um marco da história da dança francesa, sexualmente explícita para a época, escreveram especialistas como Debra Craine. "Le Jeune Homme et la Mort", considerada a sua obra-prima, chocou o público ao encenar o suicídio do protagonista num intenso pas-de-deux que foi brilhantemente dançado pela sua musa e por estrelas como Jean Babilée, Mikhail Baryshnikov e Rudolf Nureyev.
Certo é que a lista dos seus colaboradores é impressionante: autores como Jean Cocteau e Jacques Prévert; artistas como Brassaï, Picasso e Max Ernst; e designers como Yves Saint Laurent e Christian Dior. E ainda Chaplin, Marilyn Monroe, Fred Astaire e Orson Welles. Os últimos, na sua maioria, herança de uma estada em Hollywood, onde trabalhou em cinema com Zizi, e de onde regressarou a Paris nos anos 60 para adaptar o musical em espectáculos como La Revue des Ballets de Paris.
Seguiu-se, depois de uma passagem de meses pela direcção do BOP em 1970, a exploração do Casino de Paris, onde apresentou "La Revue" e "Zizi je t"aime", e a criação do Ballet de Marseille, onde ficou durante mais de duas décadas e no qual fez Pink Floyd Ballet, "La Dame de Pique" e "Ma Pavlova".
Notícia substituída no dia 11/07 às 09h20