Ajudar os idosos doentes a ir ao hospital

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Sérgio Margue, Elisa Santos e Vera Santos Foto: Pedro Cunha

O projecto é um dos dez finalistas do concurso Faz - Ideias de Origem Portuguesa, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação Talento, que pretendem atribuir 50 mil euros para pôr em prática uma das ideias de portugueses na diáspora, em colaboração com residentes.

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O projecto é um dos dez finalistas do concurso Faz - Ideias de Origem Portuguesa, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação Talento, que pretendem atribuir 50 mil euros para pôr em prática uma das ideias de portugueses na diáspora, em colaboração com residentes.

"Tive conhecimento deste problema numas entrevistas a técnicos de saúde de câmaras municipais", explica Elisa, que trabalha na coordenação administrativa num projecto na área da saúde, em Angola. "Muitos idosos já se recusam a ir a consultas de rotina, com medo que lhes fossem marcados exames específicos em hospitais mais centrais, mais urbanos", com medo de enfrentar a cidade sozinhos. Muitos têm carências económicas, por isso, o facto de levarem um acompanhante fica mais pesado na carteira e, portanto, inviável.

De um lado está o Serviço Nacional de Saúde (SNS), do outro estão os voluntários das unidades de saúde, mas "falta o elo de ligação entre estas duas entidades, entre chegar à cidade e ir ao centro de saúde". É aí que entra o projecto vindo de África, que quer criar uma rede integrada como as que já existem nas grandes unidades hospitalares.

Em vez de apenas actuar dentro da unidade, os voluntários saíam, iam buscar o idoso à estação de comboios ou ao terminal de autocarros e acompanhá-lo.

Há oito anos a viver em Luanda, Elisa Santos garante que o projecto é "apenas uma alteração de um pequeno procedimento" e que não implica novas estruturas. "Implica só cobrir um pequeno hiato entre a estrutura civil, que são as organizações de voluntários, e a estrutura institucional estatal, que é o SNS". Basta aproximar estas duas respostas já existentes para o Dê-me a Mão ver a luz do dia. "É uma observação, tal como a iniciativa pedia: o que é que vem de fora que se pode melhorar cá dentro", justifica e continua: "O que eu vejo de fora é que, se ligarmos estas duas pontas, o sistema continua como agora, mas com melhor qualidade", sem grande investimento e sem nenhuma dependência a uma nova entidade responsável pela ideia. É apenas "um prolongamento do que já temos", insiste. E as associações de amigos já existentes nos hospitais poderão vir a integrar o projecto. Assim, o utente sentir-se-á acompanhado em todo o processo.

Os únicos entraves que a equipa poderá encontrar são os contactos e a aprovação de associações de voluntariado para o projecto. Inclui custos dos voluntários nos transportes públicos quando vão buscar os utentes às principais estações e terminais das cidades, e não só... "É a única desvantagem do projecto". Mas se a equipa ganhar os 50 mil euros do prémio, "já dá para ajudar numa primeira instância".

Para pôr esta ideia em acção e participar no concurso, Elisa, a viver em Angola, reuniu-se com dois residentes em Portugal, de maneira a cumprir os requisitos para participar. "Pode vir a ser uma ideia para mudar Portugal, de forma a acolhermos e tratarmos dos nossos idosos", porque um dia "seremos nós do outro lado" e "vamos ter as mesmas necessidades e carências". Uma ideia para mudar o país.

Elisa Santos voltou a Portugal para esta iniciativa. Reside há oito anos em Luanda e relembra o que a fez sair de Portugal: "A certa altura, tive muita vontade de conhecer outras coisas no meu percurso de vida".

Começou a trabalhar muito nova e teve necessidade de sair para conhecer outras realidades. Chegou a Angola para se "realizar na área do voluntariado", mas, de seguida, surgiu uma nova oportunidade de ter outra experiência profissional e acabou por ficar. Com este projecto, Elisa Santos não tenciona voltar de vez para Portugal, já que o Dê-me a Mão, se for posto em prática, não precisa da sua ajuda, nem da sua presença, conclui.

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