Aliado de Berlusconi avisa que pode “dizer Stop”
“Querido Berlusconi, a tua capacidade para dirigir a direita pode ser questionada se algumas coisas não forem feitas”, disse o líder do partido na sua festa em Pontida, perto de Bergamo, onde em 1167 terá nascido a Liga Lombarda, aliança do Norte contra o imperador Federico Barbarossa.
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“Querido Berlusconi, a tua capacidade para dirigir a direita pode ser questionada se algumas coisas não forem feitas”, disse o líder do partido na sua festa em Pontida, perto de Bergamo, onde em 1167 terá nascido a Liga Lombarda, aliança do Norte contra o imperador Federico Barbarossa.
Bossi não defende eleições antecipadas porque conhece os riscos: “Este é um momento favorável à esquerda”. Mas a Liga não está disposta a tudo. “Não seremos nós os responsáveis por mandar o país para a ruína.”
O partido que nasceu há 22 anos para pedir a autonomia do Norte considera Il Cavaliere como o grande responsável pelos recentes desaires eleitorais e muitos dirigentes têm defendido que Berlusconi passou de mais-valia a fardo e que é chegado o tempo de pôr fim a esta aliança.
Há três semanas, a direita sofreu derrotas importantes nas eleições locais. A perda da câmara de Milão foi a mais pesada. E ainda há uma semana, voltou a ser derrotada em toda a linha em três referendos: um sobre a rejeição da energia nuclear, outros sobre a privatização da água e ainda uma consulta à lei que revoga a imunidade judicial ao primeiro-ministro. Berlusconi avisou que não ia votar e a Liga apelou à abstenção.
Uma vez mais, como já fizera com a câmara de Milão, e apesar crise de popularidade que atravessa, o chefe do Governo fez dos referendos um plebiscito à sua governação. Duplo desaire. Milão fugia à esquerda há 20 anos e desde 1995 que nenhum referendo em Itália era validado por a participação não chegar aos 50 por cento. Desta vez votaram 57 por cento dos eleitores.
Vários analistas apostavam ainda antes das eleições locais que a aliança entre a Liga e o Povo da Liberdade de Berlusconi não sobreviveria a uma derrota em Milão. A Liga, sustentavam, não se deixaria arrastar por Berlusconi numa espiral de derrotas e perda de peso eleitoral. Mas provocar eleições antes de 2013 pode ser entregar o país ao centro-esquerda.
Assim, o que a Liga vai tentar é ganhar o mais possível com a fragilidade do primeiro-ministro. Bossi repetiu ontem que exige ver transferidas de Roma para o Norte do país as sedes de pelo menos quatro ministérios, questão simbólica mas que tem sido muito criticada pelos outros partidos.
Fim das missões no estrangeiroA par da transferência de ministros, a exigência mais importante passa pela redução da carga fiscal, que “ultrapassou os limites do suportável”, disse Bossi, defendendo que “há onde encontrar o dinheiro”. A receita da Liga passa por “pôr fim às missões de paz” em que a Itália participa – Líbia, Afeganistão e Líbano –, o que permitiria “economizar uns bons mil milhões de euros”.
Muito aplaudido, Bossi falou para 80 mil de apoiantes, muitos preparados para este dia a rigor, com trajes medievais completos, outros vestindo verde, a cor do partido, de alto a baixo. A AFP falou com dois gémeos de 27 anos e mais de 1,90 metros, Roberto e Paolo Locatti, com T-shirts onde se lia “a Padania não é a Itália” e “Jamais escravos de Roma”. A Padania é o termo usado pela Liga para apelidar as regiões mais ricas do Norte. Roberto quer garantias “sobre o federalismo fiscal”, enquanto Paolo aguarda pacientemente pelo fim da legislatura e o adeus a Berlusconi: “As pessoas estão cada vez mais fartas dele”.
A multidão gritou muitas vezes “secessão; Bossi respondeu com a promessa de “uma pressão muito forte contra o centralismo”.