Nunca se viu um Osso tão Vaidoso

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Alexandre Soares e Ana Deus

Estão longe de ser novatos, mas para Alexandre Soares e Ana Deus, o momento está a ser vivido como se fossem, com o seu novo projecto, os Osso Vaidoso, a circularem nos últimos meses de boca em boca, graças a blogues, redes sociais e sítios da Rede.

Nos anos 80 ele foi um dos fundadores dos GNR e uma das guitarras mais imaginativas de sempre da cultura pop portuguesa. Ela era uma das vozes dos Ban. Nos anos 90 juntaram-se para os Três Tristes Tigres, autores de três álbuns - "Partes Sensíveis" (1993), "Guia Espiritual" (1996) e "Comum" (1998) - do melhor que se ouviu da música feita em Portugal nessa década.

Criaram merecido culto, mas nunca atingiram projecção popular. Talvez por isso acabaram por não criar descendência. Mas isso é história. Não há qualquer nostalgia, mas existe a noção de que há pontas soltas que vêm desse tempo que acabam por estar presentes nos Osso, como a omnipresença da poetisa Regina Guimarães. Mas não só. "Se existe alguma continuidade ela deve-se a essa procura de novos embrulhos para o formato canção" reflecte Ana Deus. Mas os Osso são outra coisa. Mais descarnada, minimal, esquelética. Com muito mais osso e com mais tempo e espaço para as palavras se afirmarem.

O nome do projecto faz jus à música. Som económico para guitarra, ritmo discreto quando existe e voz. Sem querer soam profundamente contemporâneos. Há qualquer coisa da intemporalidade afirmada na alvorada dos anos 80 pelos Young Marble Giants, mas também se poderia evocar projectos dos últimos anos, a começar pelos The xx em versão austera, que investem num som descarnado. E tudo começou por acaso.

"O ano passado o Alexandre foi convidado para a iniciativa Meia Noite e Uma Guitarra, que decorreu no cinema S. Jorge em Lisboa e convidou-me. Tivemos que arranjar um nome à pressa e foi aí que o Osso Vaidoso nasceu." Pouco tempo antes já tinha existido um reencontro no Porto. "Tudo isto nasceu por acaso, mas agora, olhando para trás, era evidente que devíamos trabalhar em conjunto. Ele é a pessoa que melhor conheço e faz sentido. As coisas vão acontecendo sem grandes planos. Até há pouco tempo andava à procura de outro tipo de coisas. Ligava mais à poesia do que à canção. Queria dar voz a outras coisas menos melodiosas e menos orquestradas. Andava um pouco por aí. Mas agora que nos reencontrámos estou contente por termos voltado a tocar."

"Os Tigres tinham muitas camadas", reflecte. "Sonicamente era uma coisa mais complexa. Agora é tudo alicerçado na palavra e no texto. Nos Tigres ficava à espera da música ou da harmonia e agora não, é ao contrário. Parto do texto. Quando se trabalha com muitos músicos, a palavra pode ser desviada pelo que o outro está a fazer. Com um apenas também pode acontecer, mas é mais fácil a palavra ser respeitada. É uma espécie de mano a mano" diz. Esse gosto por trabalhar textos veio-lhe dos Três Tristes Tigres e da colaboração com Regina Guimarães, mas viria a ser reforçado nos últimos anos em diversas colaborações, como aconteceu com as Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre.

Foi aí que aprofundou o gosto por diversos autores. Daí que os Osso já tenham musicado palavras da dupla e de Regina Guimarães, mas também de valter hugo mãe ou de Alberto Pimenta. Com este último realizaram uma edição conjunta (Livro + CD) através da editora Mia Soave - trata-se do último livro de Pimenta, "Reality Show", na companhia do CD "Degrau" dos Osso. Nele a dupla aborda oito poemas de Pimenta que vão do registo "dito e entoado, ao cantado", diz Ana. É esse espectáculo ("Pimenta na Boca"), construído a partir de poemas de Alberto Pimenta, que irão apresentar hoje no festival Silêncio, na companhia do músico Pedro Augusto, conhecido por Ghuna X.

Na actualidade têm uma hora de canções e, para além do CD com o livro de Pimenta, já se encontram a pensar num novo lançamento, sem pressas e sem ambições desmedidas. "O processo de afirmação dos Osso tem sido muito descontraído, mas pomos muito empenho a fazer as coisas" diz Ana Deus. "Quando as pessoas diziam que os Tigres deviam voltar, nós respondíamos que não. Já não somos o que éramos. Há sempre uma base. Mas queremos ser diferentes." Não há dúvida que é verdade.

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Estão longe de ser novatos, mas para Alexandre Soares e Ana Deus, o momento está a ser vivido como se fossem, com o seu novo projecto, os Osso Vaidoso, a circularem nos últimos meses de boca em boca, graças a blogues, redes sociais e sítios da Rede.

Nos anos 80 ele foi um dos fundadores dos GNR e uma das guitarras mais imaginativas de sempre da cultura pop portuguesa. Ela era uma das vozes dos Ban. Nos anos 90 juntaram-se para os Três Tristes Tigres, autores de três álbuns - "Partes Sensíveis" (1993), "Guia Espiritual" (1996) e "Comum" (1998) - do melhor que se ouviu da música feita em Portugal nessa década.

Criaram merecido culto, mas nunca atingiram projecção popular. Talvez por isso acabaram por não criar descendência. Mas isso é história. Não há qualquer nostalgia, mas existe a noção de que há pontas soltas que vêm desse tempo que acabam por estar presentes nos Osso, como a omnipresença da poetisa Regina Guimarães. Mas não só. "Se existe alguma continuidade ela deve-se a essa procura de novos embrulhos para o formato canção" reflecte Ana Deus. Mas os Osso são outra coisa. Mais descarnada, minimal, esquelética. Com muito mais osso e com mais tempo e espaço para as palavras se afirmarem.

O nome do projecto faz jus à música. Som económico para guitarra, ritmo discreto quando existe e voz. Sem querer soam profundamente contemporâneos. Há qualquer coisa da intemporalidade afirmada na alvorada dos anos 80 pelos Young Marble Giants, mas também se poderia evocar projectos dos últimos anos, a começar pelos The xx em versão austera, que investem num som descarnado. E tudo começou por acaso.

"O ano passado o Alexandre foi convidado para a iniciativa Meia Noite e Uma Guitarra, que decorreu no cinema S. Jorge em Lisboa e convidou-me. Tivemos que arranjar um nome à pressa e foi aí que o Osso Vaidoso nasceu." Pouco tempo antes já tinha existido um reencontro no Porto. "Tudo isto nasceu por acaso, mas agora, olhando para trás, era evidente que devíamos trabalhar em conjunto. Ele é a pessoa que melhor conheço e faz sentido. As coisas vão acontecendo sem grandes planos. Até há pouco tempo andava à procura de outro tipo de coisas. Ligava mais à poesia do que à canção. Queria dar voz a outras coisas menos melodiosas e menos orquestradas. Andava um pouco por aí. Mas agora que nos reencontrámos estou contente por termos voltado a tocar."

"Os Tigres tinham muitas camadas", reflecte. "Sonicamente era uma coisa mais complexa. Agora é tudo alicerçado na palavra e no texto. Nos Tigres ficava à espera da música ou da harmonia e agora não, é ao contrário. Parto do texto. Quando se trabalha com muitos músicos, a palavra pode ser desviada pelo que o outro está a fazer. Com um apenas também pode acontecer, mas é mais fácil a palavra ser respeitada. É uma espécie de mano a mano" diz. Esse gosto por trabalhar textos veio-lhe dos Três Tristes Tigres e da colaboração com Regina Guimarães, mas viria a ser reforçado nos últimos anos em diversas colaborações, como aconteceu com as Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre.

Foi aí que aprofundou o gosto por diversos autores. Daí que os Osso já tenham musicado palavras da dupla e de Regina Guimarães, mas também de valter hugo mãe ou de Alberto Pimenta. Com este último realizaram uma edição conjunta (Livro + CD) através da editora Mia Soave - trata-se do último livro de Pimenta, "Reality Show", na companhia do CD "Degrau" dos Osso. Nele a dupla aborda oito poemas de Pimenta que vão do registo "dito e entoado, ao cantado", diz Ana. É esse espectáculo ("Pimenta na Boca"), construído a partir de poemas de Alberto Pimenta, que irão apresentar hoje no festival Silêncio, na companhia do músico Pedro Augusto, conhecido por Ghuna X.

Na actualidade têm uma hora de canções e, para além do CD com o livro de Pimenta, já se encontram a pensar num novo lançamento, sem pressas e sem ambições desmedidas. "O processo de afirmação dos Osso tem sido muito descontraído, mas pomos muito empenho a fazer as coisas" diz Ana Deus. "Quando as pessoas diziam que os Tigres deviam voltar, nós respondíamos que não. Já não somos o que éramos. Há sempre uma base. Mas queremos ser diferentes." Não há dúvida que é verdade.