Viagem a Portugal

Não é coisa normal ver um documentarista que, passado à ficção, faça obra tão diferente daquilo a que nos habituou: paredes-meias com o experimentalismo, "Viagem a Portugal" é um objecto estético austero e despojado que ejecta toda e qualquer queda na banalidade melodramática para apenas reter o esqueleto descarnado do caso real em que se inspira. E é precisamente nessa intersecção que Sérgio Tréfaut ganha a sua aposta: é quase um desafio anti-naturalista, teatral, deixando os actores "desamparados" em cenários reduzidos ao mínimo. Talvez por causa disso, e da sua aposta na unidade aristotélica de tempo (24 horas), espaço (o aeroporto de Faro) e acção (apenas três personagens), Tréfaut consegue concentrar o espectador naquilo que realmente interessa, que é a dimensão humana da história, muitíssimo bem transportada por uma Maria de Medeiros que não víamos com tanta garra no cinema há anos e por uma Isabel Ruth arrepiante de mesquinhez. Uma surpresa.

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Não é coisa normal ver um documentarista que, passado à ficção, faça obra tão diferente daquilo a que nos habituou: paredes-meias com o experimentalismo, "Viagem a Portugal" é um objecto estético austero e despojado que ejecta toda e qualquer queda na banalidade melodramática para apenas reter o esqueleto descarnado do caso real em que se inspira. E é precisamente nessa intersecção que Sérgio Tréfaut ganha a sua aposta: é quase um desafio anti-naturalista, teatral, deixando os actores "desamparados" em cenários reduzidos ao mínimo. Talvez por causa disso, e da sua aposta na unidade aristotélica de tempo (24 horas), espaço (o aeroporto de Faro) e acção (apenas três personagens), Tréfaut consegue concentrar o espectador naquilo que realmente interessa, que é a dimensão humana da história, muitíssimo bem transportada por uma Maria de Medeiros que não víamos com tanta garra no cinema há anos e por uma Isabel Ruth arrepiante de mesquinhez. Uma surpresa.