Tropas sírias atacam cidade no Norte deixando rasto de morte pelo caminho
Desde ontem que surgem informações de que unidades do Exército sírio, incluindo a da 4ª Divisão Mecanizada, sob o comando do irmão de Assad, Maher, estão mesmo a usar helicópteros contra os manifestantes da oposição, bombardeando repetidamente, também com tanques, Jisr al-Shughour, no Norte.
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Desde ontem que surgem informações de que unidades do Exército sírio, incluindo a da 4ª Divisão Mecanizada, sob o comando do irmão de Assad, Maher, estão mesmo a usar helicópteros contra os manifestantes da oposição, bombardeando repetidamente, também com tanques, Jisr al-Shughour, no Norte.
“Têm pelo menos 150 tanques e outros veículos armados. A cidade é tão pequena que nem dá para conter tantos carros de guerra. Os bombardeamentos não param agora e há dois helicópteros a sobrevoar permanentemente e a disparar sobre quem se move nas ruas”, descreveu um morador, citado pela agência noticiosa Reuters, que conta estar numa das colinas em volta de Jisr al-Shughour.
Estas tácticas de repressão armada das forças sírias contra as manifestações de desafio aos 11 anos de regime autoritário de Assad já foram utilizadas em outras cidades do país, pela primeira vez em Deraa, a cidade berço dos protestos, a 25 de Abril passado. Estima-se que mais de 1100 civis morreram já desde o início da revolta, que eclodiu com apelos a maiores liberdades políticas e o fim da pobreza e corrupção.
O regime justificou esta entrada em força em Jisr al-Shughour para repor a ordem depois da alegada morte na semana passada de mais de 120 membros das forças de segurança, que as autoridades dizem ter sido atacados por “grupos armados” que visam desestabilizar o país. Mas activistas dos direitos humanos e residentes da cidade testemunham terem sido combates entre soldados que renegaram o regime e uma unidade do Exército chamada a estancar as deserções. Algumas testemunhas asseveram que as mortes ocorridas naquele incidente foram militares que se recusaram a disparar sobre os civis que se manifestavam contra o regime.
A televisão estatal síria tem vindo a mostrar ao longo de todo o dia imagens do exército a combater “grupos armados” à entrada e dentro da cidade, reportando igualmente que “dois membros das organizações armadas foram mortos, muitos detidos e foi confiscado um vasto arsenal de armas mortais que tinham na sua posse”. Foi ainda precisado que os militares desmontaram vários engenhos explosivos colocados nas pontes e estradas de Jisr al-Shughour e que descobriram uma vala comum com os cadáveres dos membros das forças de segurança alegadamente mortos pelos revoltosos na semana passada, e cujos corpos “tinham marcas de atrocidades”.
Este ataque sobre Jisr al-Shughour (cidade de 50 mil habitantes) levou milhares de pessoas a fugirem em direcção à Turquia. Estima-se que mais de quatro mil sírios passaram já a fronteira nos últimos dias e que pelo menos outros dez mil se encontram escondidos na zona de bosque ainda do lado sírio, enquanto as forças leais sob o comando de Maher al-Assad avançam sobre a cidade desde o Noroeste.
“A minha mulher está com 11 crianças do outro lado [na Síria]. Eu vim arranjar-lhes comida. Fugimos para o bosque ontem à noite, quando os bombardeamentos se intensificaram”, contou à Reuters um agricultor de 55 anos, que se esgueirara até à aldeia turca de Guvecci para conseguir mantimentos para a família.
O jornal turco “Radikal” avança na edição de hoje que a Turquia vai criar uma “zona de tampão” caso o fluxo de refugiados da Síria ultrapasse as dez mil pessoas. “A área de fronteira é já uma zona de tampão, com famílias inteiras escondidas por entre as árvores”, descreveu à Reuters um activista dos direitos humanos sírio que está a ajudar a coordenar o movimento dos civis em fuga.
Notícia actualizada às 17h15