Costa fora da corrida. Seguro e Assis querem liderança do PS
António Costa desfez o mistério. Na reunião da Comissão Nacional, ontem à noite, no Hotel Altis, em Lisboa, disse aos socialistas que não pretendia entrar na corrida à liderança do PS. Costa deixou assim o lugar aberto para Francisco Assis, que fez depender a sua candidatura da decisão de Costa, e que terá agora António José Seguro como adversário na disputa interna.
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António Costa desfez o mistério. Na reunião da Comissão Nacional, ontem à noite, no Hotel Altis, em Lisboa, disse aos socialistas que não pretendia entrar na corrida à liderança do PS. Costa deixou assim o lugar aberto para Francisco Assis, que fez depender a sua candidatura da decisão de Costa, e que terá agora António José Seguro como adversário na disputa interna.
À Comissão Nacional, Costa explicou que recebeu “mensagens de incentivo” à sua candidatura, mas teve de recusar. “Não é possível acumular a liderança do PS e a presidência da câmara de Lisboa. O PS precisa de um secretário-geral a tempo inteiro e a cidade de Lisboa de um presidente com dedicação exclusiva”, afirmou.
O discurso, a que os jornalistas tiveram acesso, terminou com a afirmação de que o PS “é rico em quadros políticos e os militantes saberão eleger como secretário-geral aquele que está em melhores condições de nos liderar neste novo ciclo e que contará, como contaram os anteriores secretários-gerais, com a minha militância dedicada”.
Costa não expressou o apoio a nenhum candidato, mas o PÚBLICO apurou que o autarca quer ver Assis na liderança do PS. E que poderá mesmo integrar a lista de Francisco Assis ao congresso.
Ontem à noite, Seguro e Assis formalizaram as suas candidaturas perante os membros da Comissão Nacional. Mas a primeira querela aconteceu ainda durante a reunião, com a discussão sobre os calendários para as directas e para o congresso extraordinário. Seguro quer celeridade; Assis quer um prazo longo para as directas e para o conclave, atirando as eleições e o congresso para Outubro. Contudo, ganhou Seguro. Que aceitou a proposta do Secretariado Nacional cessante: eleições directas a 23 de Julho e congresso entre 9 e 11 de Setembro.
Os apoiantes de Seguro concordaram com esta proposta, defendendo a celeridade de todo o processo, mas Assis contestou. Porque, notaram dirigentes próximos de Seguro, o ex-líder parlamentar precisaria de mais tempo para recrutar apoios. Note-se que uma das lacunas apontadas a Assis é precisamente a ausência do apoio das bases e a falta de contacto com as federações. Um prazo mais alargado possibilitaria a Francisco Assis começar a trabalhar no terreno.
A lista proposta pelo Secretariado Nacional para a Comissão Organizadora do Congresso (COC) foi aprovada pela Comissão Nacional, embora a corrente Esquerda Socialista, liderada por Fonseca Ferreira, tenha apresentado uma alternativa, encabeçada por Artur Cortez. Venceu a lista liderada por Joaquim Raposo e composta por Manuel Seabra, Ana Couto, Artur Penedos, Miguel Coelho, Isabel Santos, Acácio Pinto e Hugo Costa, entre outros.
Neto critica AssisÀ entrada para o Altis, a maioria dos dirigentes não escondiam alguma expectativa sobre a identidade dos candidatos, sendo que ninguém parecia ter dúvidas sobre a candidatura de António José Seguro. A incógnita residia então em António Costa e Francisco Assis. O presidente da câmara de Lisboa reunia um vasto consenso entre os socialistas, mas muitos aguardavam que, na eventualidade de Costa não avançar, Assis conseguisse recrutá-lo para a sua lista. A maior parte dos membros da Comissão Nacional escusou-se a nomear as suas preferências para a sucessão de José Sócrates. Mas Almeida Santos, presidente do PS, furou o silêncio, dizendo que gostaria que Costa fosse candidato, embora não acreditasse nessa hipótese.
Também Henrique Neto, ex-deputado socialista e crítico da governação de Sócrates, reafirmou o seu apoio a António José Seguro, apontando-o como “o candidato da mudança”. “Sempre se distanciou do primeiro-ministro, foi moderadamente crítico e tem mais princípios democráticos”, explicou ao PÚBLICO. Sobre Assis, Henrique Neto considerou que a sua candidatura será “a do aparelho, a da continuidade”. E questionou a composição da Comissão Organizadora do Congresso, constituída na reunião da Comissão Nacional: “Vai assistir-se a uma tentativa de manipulação. Desde logo querem fazer tudo à pressa, sem debate, quando o PS precisa de um profundo debate interno. A COC é uma estrutura muito importante e tanto quanto sei estão a organizar uma Comissão que é do aparelho, para servir o candidato do aparelho.”
“Adoro-vos”
José Sócrates esteve também na Comissão Nacional, mas por muito pouco tempo. O secretário-geral cessante foi ao Altis apenas para apresentar a proposta de calendário das directas e do congresso e para fazer uma declaração de despedida. Segundo o relato de vários dirigentes presentes na reunião, Sócrates fez uma curta intervenção, terminando com um “adoro-vos”.
À entrada e à saída (ainda antes de Costa falar aos jornalistas), Sócrates não respondeu aos jornalistas. Refira-se que na noite em que assumiu a derrota do PS, o primeiro-ministro demissionário explicou que não irá ocupar quaisquer cargos políticos e que essa decisão “tem a ver com a intenção de não querer condicionar de nenhuma forma próxima liderança do PS”. Ainda na noite eleitoral, Sócrates recusou nomear um candidato da sua preferência – “a resposta tê-la-ão muito em breve”, disse então –, notando que “os militantes socialistas irão eleger [um novo secretário-geral] em inteira liberdade”.