Da Imaturidade
Xavier Dolan é um canadiano de 22 anos e há quem diga que se trata de um "boy wonder", partindo do pressuposto de que não é normal garotos de 22 anos andarem a realizar longas-metragens capazes de conseguirem grande exposição internacional (mesmo o "boy wonder"original, Orson Welles, teve que esperar pelos 26 anos para fazer o "Citizen Kane").
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Xavier Dolan é um canadiano de 22 anos e há quem diga que se trata de um "boy wonder", partindo do pressuposto de que não é normal garotos de 22 anos andarem a realizar longas-metragens capazes de conseguirem grande exposição internacional (mesmo o "boy wonder"original, Orson Welles, teve que esperar pelos 26 anos para fazer o "Citizen Kane").
Não desfazendo na juventude, nem na juventude em geral nem na de Dolan em particular, e independentemente de, como Belmondo no "À Bout de Souffle", "on aimer bien les vieux", não é difícil perceber que o realizador de "Os Amores Imaginários" só tem 22 anos - o filme di-lo, ou pelo menos não o disfarça, ainda que involuntariamente. É um olhar imaturo sobre a imaturidade, assente na teia de relações de um grupo de jovens: uma moral sentimental, uma "imitação da vida", servidas numa assertividade baseada em coisa quase nenhuma (os diálogos, de uma solene banalidade, sobretudo os "intermezzos" em estilo "falso documentário", onde se dá rédea solta ao aforismo empertigado); uma bulimia muito pouco interessante, e sobretudo muito previsível, no "fazer à maneira de" (Cassavetes, Wong-Kar Wai, surprise, surprise); e um tom, que não se deve confundir com um "estilo" (não há "estilo": é sempre, na melhor das hipóteses, "à maneira de"), a que se reage epidermicamente como se reage à arrogância sem substância (e que não tem nada a ver, 22 anos por 22 anos, com a arrogância "destroy" dos "punks" - a pretensão aqui é outra, ou é doutro género, e esse é que o problema).
Dolan tem sido terreno fértil para o "hype", e de certa maneira é um produto dele. "Os Amores Imaginários", não sua irredimível normalidade, não oferece grandes razões para pensar que Dolan tenha vida - quer dizer, cinema - para além do "hype". Traz à memória outro "quebecois" sem nada de especial, Denys Arcand, que nos anos 80 grangeou fama à custa das suas "crónicas geracionais" tipo "O Declínio do Império Americano". Troque-se a meia-idade pela geração dos 20 anos, e de facto não ficamos assim tão longe.