BMW Art Collection: O meu carro é mais artístico do que o teu

Quinze dos 17 carros transformados ao longo dos últimos 36 anos por reputados artistas juntaram-se no Museu da BMW, em Munique, na maior reunião de sempre da BMW Art Collection.

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São obras de arte, mas são, também e principalmente, automóveis. Mais precisamente 17 BMW, na sua maioria destinados às pistas, porém transformados em peças únicas por alguns dos mais conceituados artistas plásticos. Por isso, a maior concentração de sempre desta BMW Art Collection, que inclui 15 modelos (uma das duas ausências é o conceptual H2R de Olafur Eliasson), está a atrair milhares de visitantes ao Museu da BMW, em Munique, Alemanha.

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São obras de arte, mas são, também e principalmente, automóveis. Mais precisamente 17 BMW, na sua maioria destinados às pistas, porém transformados em peças únicas por alguns dos mais conceituados artistas plásticos. Por isso, a maior concentração de sempre desta BMW Art Collection, que inclui 15 modelos (uma das duas ausências é o conceptual H2R de Olafur Eliasson), está a atrair milhares de visitantes ao Museu da BMW, em Munique, Alemanha.

De tal maneira que a exibição, prevista para terminar este mês, irá permanecer pelo menos até 30 de Setembro. Apenas o mais recente, o M3 GT2 de Jeff Koons, que correu na edição do ano passado das 24 Horas de Le Mans, partirá mais cedo. Ainda assim, há 14 boas razões para rumar à capital da Baviera, onde o visitante pode conhecer desde os primeiros motores até às mais recentes criações da BMW, mas também sentir-se numa galeria de arte que reúne intervenções de celebridades como Frank Stella, Roy Lichtenstein, Andy Warhol, A.R. Penck, David Hockney ou Jenny Holzer.

E, se as 14 razões não forem suficientemente aliciantes, o novo BMW Welt (Mundo, em alemão), além de servir de ponto de entrega aos novos proprietários ou de exercer funções de pavilhão multiusos, veio contribuir para que Munique se aproxime cada vez mais desta parte da cidade, atraindo também muito do turismo que procura a urbe alemã.

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No The Welt a entrada é livre dr

No Welt, um premiado edifício envidraçado concebido pelo atelier vienense Coop Himmelb(l)au e que se apresenta numa construção de cone duplo com o tecto a parecer flutuar, a entrada é livre — no museu, o bilhete custa 12 euros para a colecção + expo temporária e 5 euros para a exibição temporária. Aí, famílias inteiras passeiam-se entre as mais recentes novidades da marca: os mais crescidos vêm talvez decidir a próxima viatura a adquirir; os mais novos chegam dispostos a brincar com os vários modelos de carros e motos à disposição — saindo e entrado, comportando-se como se estivessem num gigantesco parque de diversões. Além disso, podem participar no Junior Campus, que inclui várias oficinas sobre assuntos relacionados com carros e mobilidade.

Arte ao serviço da velocidade

O espírito arrojado com que o Welt — ligado ao museu por um passadiço —, se mostra, não é uma novidade na marca nem está dissociado daquilo que originou os Art Cars. Tudo começou por uma ideia do artista plástico e mecenas francês, apaixonado pela velocidade, Hervé Poulain: levar para as pistas o melhor das artes. Não tardou a convencer o norte-americano Alexander Calder (1898-1976) a transformar um carro de corrida numa peça de arte móvel. O que nem terá sido difícil: Calder era um entusiasta do género, tendo sido o inventor dos mobiles (designados, posteriormente, por Marcel Duchamp). Faltava-lhes apenas o carro. Começaram por abordar as marcas francesas, mas foi na Alemanha que encontraram um aliado depois de Jean Todt lhes ter indicado que “havia uns tipos na BMW um pouco loucos”.

A fama colara-se à marca precisamente pela recente abertura de um museu, o Bowl (“Tigela”, pela sua forma), paredes-meias com a sede, um gigantesco edifício, formado por quatro cilindros que dão a ilusão de estarem suspensos. Ambas as estruturas, projectadas pelo arquitecto austríaco Karl Schwanzer (1918-1975), vieram revolucionar a área, principalmente de cariz industrial, ao que também não foi alheia a construção do Estádio Olímpico para os Jogos de 1972.

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Com provas dadas em relação ao seu interesse em estar na vanguarda dos tempos, a marca alemã anuiu à proposta da dupla, mas impôs a regra de ouro: não alterar nada na estrutura do veículo, na altura, em 1975, um 3.0 CSL que acabaria por não chegar ao fim das 24 Horas de Le Mans, com Poulain na equipa corredora, mas que foi o centro das atenções. Nasceu assim o primeiro Art Car, colorido e cheio de ideias de movimento, sem que ainda houvesse “qualquer intuito de construir uma colecção”. Porém, logo no ano a seguir, foi a vez de Frank Stella (n.1936, Malden, EUA) pôr a sua arte ao serviço da alta velocidade — um 3.0 CSL com uma grelha a preto e branco a cobrir a pintura. E, em 1977, Roy Lichtenstein imprimiu movimento a um 320i através de linhas e pontos que remetem para a ligação do ilustrador às tiras de BD.

Mas foi preciso esperar por Andy Warhol (1928-1987) para que a ideia de colecção ganhasse forma. Até porque o papa da pop art foi o primeiro a trabalhar directamente no carro, deixando as suas impressões digitais em todo o veículo. A intervenção demorou 23 minutos e o resultado, segundo Warhol, foi uma tentativa de “representar a velocidade” com a qual “todas as linhas e cores ficam desfocadas”.

Desfocados ficam também os sentidos de muitos dos visitantes, programados para apreciarem o engenho automóvel e desafiados a olharem para os carros como se de telas se tratassem. O certo é que estas obras em formato automóvel não surgiram em série ou sob encomenda — “na maioria dos casos foram os artistas que procuraram a BMW”. E, para já, não há intenção de retirar da ribalta a última criação, o M3 GT2 trabalhado com película por Koons. “Talvez em 2014 ou 2015...” Quanto a números, garante a BMW, o valor de qualquer Art Car é incalculável — e mesmo que o fosse, não seria relevante: estes carros não estão à venda.

A impagável colecção e o carro-pintor

A principal razão pela qual não há valor de mercado para estes BMW deve-se ao facto de estes carros não surgirem em série ou sob encomenda — na maioria dos casos foram os artistas que procuraram a BMW. Por isso, depois dos exemplos dos anos 70, na década seguinte apenas foram criados quatro carros. Assim, surgiram dois 635 CSi: um por Ernst Fuchs (o carro em chamas) e outro por R. Rauschenberg (o primeiro a usar a fotografia neste tipo de suporte). E também dois M3, um por M.J. Nelson (o abstracto onírico com raízes na arte de Papunya) e outro por Ken Done (a cor ao serviço do exotismo).

A década seguinte revelou-se mais profícua, com seis exemplares assinados por Matazo Kayama (um 535i trabalhado quase como uma jóia com aplicações em ouro, prata e alumínio), Cesar Manrique (a cor e as linhas a reforçarem mais uma vez o movimento de um 730i), A.R. Penck (um Z1 que reúne conceitos abstractos e modernistas a desenhos que remetem para gravuras pré-histórias), Esther Mahlangu (a primeira mulher a acelerar na série, com todas as referências à sua África natal num 525i — por sinal, ausente na mostra em Munique), Sandro Chia (o reflexo das caras dos que admiram os carros num Série 3), David Hockney (todas as paisagens reunidas num 850CSI) e Jenny Holzer (um V12 LMR trabalhado com mensagens em letras garrafais e fluorescentes).

Já o século XXI originou diferentes Art Cars mas, destes, apenas o modelo de Koons, um M3 GT2 de 2010, trabalhado com película, que voltou a colocar a arte ao serviço das corridas, se encontra no museu — mesmo no topo da tigela. O anterior foi o conceptual H2R, de 2007, também conhecido por “o gelado”, de Olafur Eliasson, por ter sido transformado através de barras de ferro e gelo (o veículo só pode ser exibido no interior da sua garagem — uma gigantesca câmara frigorífica).

Há ainda um 18.º automóvel, raramente incluído no mesmo grupo pelo facto de o carro não ser o objecto de arte, tendo sido o instrumento: a obra do sul-africano Robin Rhode está expressa nas marcas desenhadas pelos pneus do Z4 Roadster, conduzido pelo próprio em 2009. Na verdade, nesta peça, o verdadeiro “pintor” foi o carro e os pneus os seus “pincéis”.