Os trinta anos que separam Carlos e Diana de William e Kate

Fotogaleria

As diferenças de base entre os dois casamentos prendem-se desde logo com o avançar dos tempos. Se o primeiro enlace foi transmitido para uma audiência de milhões, esta união vai ser transmitida via Internet, televisão e rádio para uma audiência estimada de dois mil milhões de pessoas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As diferenças de base entre os dois casamentos prendem-se desde logo com o avançar dos tempos. Se o primeiro enlace foi transmitido para uma audiência de milhões, esta união vai ser transmitida via Internet, televisão e rádio para uma audiência estimada de dois mil milhões de pessoas.

Por outro lado, neste mundo pós-atentados terroristas em Londres (2005), o casamento de William e Kate foi já alvo de ameaças de violência e perturbação da ordem pública. Alguns grupos de republicanos irlandeses, anarquistas e islamistas já foram colocados sob vigilância apertada e proibidos de se manifestarem no dia da boda.

No dia 29 de Julho de 1981, 750 milhões de pessoas concentraram-se frente a televisores espalhados pelos quatro cantos do mundo. Fez correr muita tinta o vestido de tafetá de seda em tons de marfim com que Diana se apresentou ao noivo. Apesar de todas as apostas serem válidas, a primeira grande diferença entre os dois casamentos – arriscamos nós – começa aqui mesmo: no vestido.

O vestido de Diana de Gales era um suspiro à moda dos eighties. Mangas em balão, saia em forma de sino e um véu demasiado longo. Estima-se que tenha custado mais de 10 mil euros. Há 30 anos isso era muito dinheiro. Vestiam-se assim as princesas – e as súbditas – na década de 1980: com exuberância.

A sóbria Kate deverá optar agora por um modelo mais clean, apesar de, neste departamento, as coisas continuarem em segredo. A única coisa que se sabe é um punhado de nomes que poderão (ou não) ser os eleitos para o grande dia: Sarah Burton, Bruce Oldfield, Phillipa Lepley e Alice Temperley.

Outra das diferenças entre o casamento de 1981 e o de 2011 está na própria noiva. Apesar de Diana e Kate serem ambas mulheres jovens, bonitas e simpáticas, há diferenças de base entre ambas. Diana era uma jovem tímida. Casou-se muito nova, com 20 anos, e nunca foi uma aluna brilhante nem uma profissional com garra. Já Kate completou a licenciatura em História de Arte e começou a trabalhar em 2006 como consultora de moda para a marca Jigsaw. Trabalhou até muito recentemente, mas acabou por anunciar que não conseguia continuar a conciliar os preparativos do casamento com o seu trabalho diário. Kate emerge como uma rapariga moderna e independente, talhada à semelhança da sua família directa. Os pais – ambos ex-funcionários da British Airways – enriqueceram pelo próprio pulso com uma empresa dedicada ao negócio das festas para crianças.

Precisamente porque a família real britânica se tem entrelaçado com plebeias modernas, mas também porque os tempos são outros, ainda que espartilhados pela apertada tradição monárquica, quer Diana quer Kate – especula-se – não juram obediência aos seus maridos. Em 1981, Lady Di prometeu apenas “amar, dar apoio, honrar e estimar” o príncipe de Gales. O mesmo deverá fazer agora Kate Middleton. Trata-se de uma promessa datada que já não tem sentido em monarquias arejadas e abertas à evolução.

Outra grande diferença reside no número de convidados. Se em 1981 o enlace religioso foi testemunhado por 3500 pessoas, esta cerimónia contará apenas com 1900 almas dentro da igreja. Outra diferença: o casamento de Carlos e Diana foi celebrado em St Paul's Cathedral, ao passo que este decorrerá na Abadia de Westminster.

Mas William e Kate serão mais permissivos na hora dos festejos. Se o banquete de 1981 apenas deu de jantar a 120 pessoas, este vai ser dividido em duas partes – uma recepção e depois um jantar – onde estarão 600 e 300 pessoas, respectivamente.

O facto de o mundo atravessar uma crise financeira e de a família real estar a lidar, há vários meses, com orçamentos cada vez mais reduzidos, acabaram por ditar uma contenção nas despesas com os festejos matrimoniais. Sabe-se que os custos do casamento serão divididos entre a monarquia e a família Middleton, mas os contribuintes terão de arcar com os gastos de segurança (5,6 milhões de euros). A festa será sumptuosa – apesar de tudo, não poderia ser de outra forma – mas sem grandes excessos fúteis. Estima-se que a Casa Real britânica custe aos contribuintes cerca de 34 milhões de euros por ano, mas grande parte deste esforço público é compensado com os ingressos turísticos. De todos os modos, em Outubro último, a família real concordou em cortar o seu orçamento em 14 por cento, face à actual crise financeira.

E precisamente porque o sistema financeiro está para durar e os casamentos nem sempre se aguentam (Carlos e Diana vieram a separar-se em 1992 e a divorciar-se em 1996, um ano antes da morte da “princesa do povo”), alguns especialistas aconselham William a estabelecer com Kate um “contrato pré-nupcial”. Se levarmos em conta que três dos quatro filhos da rainha Isabel II se divorciaram, a decisão acertada é acautelar desde já futuras surpresas desagradáveis. “É absolutamente evidente, estatisticamente, que um acordo pré-nupcial seria altamente benéfico neste caso”, indicou à imprensa britânica o advogado que tratou do divórcio entre Madonna e o realizador Guy Ritchie, James Stewart.

Apesar de este tipo de contratos ser prática comum nos EUA – sobretudo entre as celebridades – no Reino Unido estes acordos ainda não raros. O gabinete do príncipe William declinou comentar se irá ou não haver a celebração de um contrato desta natureza antes do enlace.

Aliás, se o príncipe Carlos tivesse feito um acordo semelhante com Diana antes de Julho de 1981, talvez ela não lhe tivesse ficado praticamente com toda a sua fortuna pessoal, avaliada então em cerca de 19 milhões de euros, segundo declarações do consultor financeiro do príncipe, Geoffrey Bignell, ao “Sunday Telegraph”.

Independentemente dos acordos estabelecidos (ou não) antes da boda, aquilo que os milhares de súbditos esperados em Londres na próxima sexta-feira querem mesmo é que este casamento tenha o mesmo final dos contos infantis. Se é que isso ainda vale no século XXI.